Brasil participa de descoberta de exoplaneta com massa da Terra
Planeta é o menor já descoberto pelo método de microlentes gravitacionais.
Um grupo internacional de astrônomos anunciou a descoberta de um exoplaneta distante que tem massa semelhante à da Terra. Entre os pesquisadores estão os brasileiros José Dias do Nascimento Jr. e Leandro de Almeida, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O planeta em questão foi batizado como KMT-2020-BLG-0414Lb e está distante cerca de 1 quiloparsec (1 kpc é igual a 1.000 parsecs ou 3.262 anos-luz) e localizado entre as constelações de Escorpião e Sagitário – mais precisamente na direção do arco e flecha de Sagitário.
O planeta está a 224,4 milhões de km de sua estrela hospedeira – ou uma vez e meia a distância que a Terra está do Sol.
Segundo os cientistas, descobrir um planeta deste tamanho é extremamente difícil. Diferentemente da maioria dos outros exoplanetas que foram descobertos por meio da técnica de trânsito, este foi encontrado pelo método de microlentes gravitacionais.
Neste sistema, os astrônomos analisam a variação do brilho de estrelas distantes quando, a partir da perspectiva do observador, há um alinhamento (ou quase) entre duas estrelas. Esse alinhamento faz com que a trajetória da luz da estrela mais distante seja desviada, aumentando o brilho dessa fonte. Se a estrela no caminho possui um planeta, os astrônomos podem detectar a sua presença através da análise cuidadosa dessa curva de luz.
Até o momento cerca de 120 exoplanetas já foram encontrados com a técnica da microlente gravitacional, sendo que este exoplaneta é o menor descoberto até agora.
“Acho que é importante para o Brasil colaborar nessas detecções que antecedem a missão Nancy Grace Roman que usará primariamente essa técnica. Isso nos dá visibilidade, e principalmente mostra a ciência que pode ser feita em ações colaborativas, mesmo em tempos de Covid-19”, disse José Dias ao Futuro Astrônomo.
A descoberta foi detalhada em um artigo publicado na revista Research in Astronomy and Astrophysics e também está disponível no ArXiv.
Por mais que o alinhamento tenha durado mais de três meses, o sinal que permitiu detectar o planeta durou apenas alguns dias.
“Medir esse evento de maneira robusta requer um esforço global para obter observações quase que contínuas do evento para caracterizar o sinal”, explicou Almeida.
De acordo com o astrônomo brasileiro, esse evento foi, originalmente, descoberto por pesquisadores coreanos do Korea Microlensing Telescope Network (KMT) que, normalmente, possuem telescópios observando a partir do Chile, Austrália e África do Sul. Porém, por conta da pandemia, apenas um telescópio australiano estava operando. “Isso tornou crucial a cooperação de diversos observatórios no mundo todo”, reforçou o pesquisador.
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Para a descoberta do exoplaneta, observações subsequentes foram realizadas com outros observatórios nos Estados Unidos, Austrália, África do Sul e também no Brasil, de forma remota com o Observatório Pico dos Dias (OPD), localizado em Brasópolis, em Minas Gerais.
Planeta frio
Os astrônomos brasileiros explicam que o planeta gira em torno de uma estrela com um terço da massa do nosso Sol, estando localizado na fronteira da zona habitável, sendo significativamente mais frio do que a Terra.
Segundo o estudo, a atmosfera do planeta deve ser fria o suficiente para que compostos voláteis como água, amônia, metano, dióxido de carbono e monóxido de carbono sejam condensados em grãos de gelo sólido.
“Nossa geração de indivíduos está vendo o nascer da socio-exoplanetologia, nas quais são pensadas e questionadas as possibilidades da existência de civilizações extraterrestres, sua deteção, especulações sobre o balanço entre água e terra como um parâmetro sine qua non para a vida e os impactos destes avanços científicos em como nos vemos e exercemos nossas relações interpessoais em comunidades e grupos na sociedade”, complementa Dias.
Neste mesmo sistema estelar, os pesquisadores também descobriram um objeto com cerca de 17 vezes a massa de Júpiter. A suspeita é que ela seje uma anã-marrom, um objeto grande demais para ser considerado um planeta, mas pequeno para ser uma estrela.
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