Brasileiros descobrem um possível cometa binário próximo da Terra
Pesquisadores identificaram o que pode ser o primeiro núcleo de um cometa binário extinto da história que está localizado na região dos NEOs.
Pesquisadores brasileiros do Observatório Nacional (ON) anunciaram que identificaram o que pode ser o primeiro núcleo de um cometa binário extinto da história que está localizado na região dos Objetos Próximos da Terra (NEOs, na sigla em inglês).
O objeto em questão foi descoberto em 2017, sendo batizado como 2017 YE5. Ele passou próximo do nosso planeta em junho de 2018, a cerca de 6 milhões de km de distância (16 vezes a distância entre a Terra e a Lua).
Durante a aproximação de 2018, observatórios de radar do Arecibo, Green Bank e Goldstone haviam identificado que se tratava de um sistema binário, com os dois corpos tendo aproximadamente 900 metros de diâmetro, com eles orbitando um ao outro em torno de um centro de massa comum. Ele completa uma órbita ao redor do Sol a cada 1.726 dias.
A existência de sistemas binários de tamanhos semelhantes é relativamente rara na região dos NEOs. O 2017 YE5 é um dos quatro sistemas conhecidos. Os outros três são 69230 Hermes, (190166) 2005 UP156 e 1994 CJ1.
Até então, o objeto era classificado apenas como um sistema binário de asteroides.
Pesquisa brasileira
Ainda em 2018, uma equipe liderada pelo astrônomo brasileiro Filipe Monteiro, do ON, realizou observações fotométricas do objeto por meio do Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI, Brasil), do Observatório Astronómico Nacional de San Pedro Martír (OAN-SPM, México) e do Blue Mountain Observatory (BMO, Austrália).
Os resultados dessas observações foram publicados no último mês na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Segundo a pesquisa, foi possível fazer uma caracterização completa desse sistema binário, incluindo o período orbital, rotação, índices de cor, densidade, albedo e tipo taxonômico.
A equipe determinou que os dois núcleos giram em torno do centro de massa comum a cada 24 horas. Porém, os pesquisadores verificaram que um deles está girando com um período de rotação de cerca de 15 horas.
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“Geralmente, esses sistemas com corpos de tamanho semelhantes estão totalmente sincronizados, o que significa que o período orbital é igual ao período de rotação dos corpos. Mas nesse sistema, um dos corpos parece não ter atingido a sincronização ainda. Uma das possibilidades é a de que o sistema seja relativamente recente e ainda não conseguiu atingir a sincronização completa”, explicou Monteiro.
Além disso, os autores dos estudos suspeitam que os componentes desse sistema podem ter composições diferentes, o que tornaria o processo de sincronização mais longo.
Os brasileiros também determinaram que os índices de cor e de brilho obtidos de 2017 YE5 são consistentes com os resultados de outros estudos sobre núcleos cometários. Ele pode ser um cometa binário extinto ou mesmo dormente.
“Essas características indicam que o sistema 2017 YE5 é um possível núcleo cometário binário, cujo material volátil foi perdido ao longo de sua história ou está guardado em seu interior”, explicou o astrônomo.
Não foi observado sublimação de gelo, mas os componentes voláteis podem estar abaixo de uma camada de rocha.
Filipe não descarta a possibilidade que o sistema binário seja alvo de uma futura missão de exploração espacial. O sistema pode fornecer mais detalhes sobre conteúdos voláteis e orgânicos na região próxima da Terra, além de fornecer pistas sobre os processos de formação de sistemas binários.
“É importante mencionar que diversos estudos têm apontado os cometas (e asteroides primitivos) como os principais fornecedores de material orgânico e volátil para Terra primitiva, o que pode ter ajudado a criar um ambiente capaz de gerar as primeiras formas de vida”, afirma o astrônomo brasileiro.
Além disso, por ser um possível cometa adormecido, ele pode oferecer mais detalhes sobre como acontece os estados finais de um cometa ou investigar os processos dinâmicos que movem os asteroides de órbitas asteroidais típicas para órbitas cometárias.
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