Astrônomo amador sugere origem do enigmático ‘Sinal Wow’

Fonte de rádio foi detectada em 1977 e especula-se que ela seja proveniente de uma civilização alienígena.

Alberto Caballero em seu espaço de trabalho. Crédito da imagem: Alba Villar/Faro de Vigo.
Alberto Caballero em seu espaço de trabalho. Crédito da imagem: Alba Villar/Faro de Vigo.

Utilizando o catálogo de estrelas da missão Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), o astrônomo amador espanhol Alberto Caballero publicou um novo estudo em que sugere a possível origem do famoso e enigmático “Sinal Wow”.

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Em sua pesquisa, Caballero estudou a região do céu que o sinal teria sido emitido e identificou 66 estrelas do tipo G e K, mas apenas uma delas é semelhante ao nosso Sol.

A mais forte candidata é 2MASS 19281982-2640123, localizada a cerca de 1.800 anos-luz da Terra. Entretanto, ainda é preciso fazer mais estudos sobre a metalicidade e idade da estrela, além de identificar a presença de planetas.

“Apesar desta estrela estar localizada muito longe para enviar qualquer resposta na forma de transmissão de rádio ou luz, pode ser um ótimo alvo para fazer observações procurando por exoplanetas ao redor da estrela”, afirmou o astrônomo espanhol.

Ele ressalta que também encontrou outras 14 estrelas potenciais semelhantes ao Sol, mas as informações sobre sua luminosidade e raio são desconhecidas.

Alberto diz ainda que o “Sinal Wow!” pode ter vindo de qualquer uma das 66 estrelas identificadas em sua pesquisa. Porém, o próprio astrônomo amador não acredita que a fonte tenha origem alienígena.

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“Minha opinião é que provavelmente tem uma origem natural por vários motivos. Foi detectado na frequência do hidrogênio, que é o elemento mais natural presente no universo. Se tivesse sido oficialmente enviado de outro planeta, teria se repetido”, afirma.

O estudo foi publicado no repositório arXiv. É válido ressaltar que o trabalho ainda não foi revisado por pares e nem publicado em uma revista científica.

Alberto Caballero nasceu em 1991 na cidade de Vigo, na Espanha. Ele é formado em criminologia e tem especialização em antiterrorismo. Ele iniciou a sua paixão pela astronomia há 5 anos, tem um canal no YouTube e já coordenou um projeto de “caça” de exoplanetas, chegando a identificar 15 candidatos possíveis.

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História do Sinal Wow!

A estranha fonte de ondas de rádio foi detectada por Jerry R. Ehman, utilizando o radiotelescópio Big Ear, da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos.

Originalmente, o observatório foi construído com fundos da National Science Foundation, dos EUA, para realizar a tarefa de criar o mapa do céu de rádio mais preciso de todos os tempos. O mapeamento foi concluído em 1972 e, a partir de 1973, o radiotelescópio passou a ser utilizado em outros projetos, como a busca de sinais de rádio de alienígenas tecnologicamente avançados, por meio do projeto SETI.

No dia 15 de agosto de 1977, Ehman sentou-se para revisar o último lote de impressões do computador com os dados coletados pelo Big Ear, onde ele foi voluntário como astrônomo. O observatório era controlado remotamente e podia coletar vários dias de dados antes que o computador ficasse sem espaço de armazenamento. 

Naquela noite, o sinal Wow foi o mais “alto” do que qualquer coisa no céu de fundo. Era também um sinal com largura de banda estreita, semelhante ao de sinais artificiais. O forte sinal foi registrado durante 72 segundos, na direção da constelação de Sagitário.

Ele chamou tanto a atenção que Ehman circulou o registro no papel e escreveu ao lado “Wow!” (“Uau!”, em inglês). Vem daí o nome do sinal.

Além disso, o sinal estava em uma frequência de cerca de 1.420 megahertz (MHz), também chamada de linha de 21 centímetros. Essa é a mesma frequência das ondas de rádio emitidas pelo gás hidrogênio neutro no espaço. É uma região relativamente livre de ruídos de outros objetos, e há muito tempo os pesquisadores envolvidos na busca por alienígenas têm interesse porque ela poderia ser usada para transmissões interestelares.

Enquanto ele examinava os dados dos dias seguintes, o astrônomo ficou surpreso ao descobrir que o sinal não reapareceu. Ehman pediu ajuda ao diretor e a equipe do observatório para procurar no céu por quaisquer objetos possíveis naquela região do céu que pudessem explicar o sinal. Os astrônomos verificaram tudo, desde cometas, planetas e até satélites. Nada combinava.

“Nenhuma conclusão foi possível, exceto que certamente tinha o potencial de ser um sinal de inteligência extraterrestre”, disse Ehman.

Infelizmente, o “Sinal Wow!” nunca se repetiu e, até o momento, não foi possível identificar a sua origem. O telescópio Big Ear também não detectou nenhum outro sinal parecido ao longo de sua história.

Hoje, quase 45 anos depois da detecção, o sinal permanece um mistério sem solução.

“Isso foi ET ou não foi? Ninguém sabe. Ninguém jamais encontrou outra explicação para o que poderia ter sido. É como se você ouvisse correntes chacoalhando em seu sótão e pensasse ‘Meus fantasmas divinos são reais’. Mas você nunca mais vai ouvi-los, então o que você acha?” afirmou Seth Shostak, astrônomo sênior do Instituto SETI.

Shostak ressalta que se Ehman não tivesse rabiscado o “Wow!” no papel ninguém jamais teria ouvido falar dele.

Anos depois, em 1993, o fundo governamental para busca de sinais extraterrestres foi cortado, e o Big Ear foi demolido em 1998.

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Imagem do registro em papel conhecido como “Sinal Wow!” Crédito da imagem: Big Ear Radio Observatory and North American AstroPhysical Observatory (NAAPO).

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Sobre o Autor

Hemerson Brandão
Hemerson Brandão

Hemerson é jornalista, escreve sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Ele também é grande entusiasta de astronomia, interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.

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