Conheça Alpha Centauri, o sistema estelar mais próximo da Terra

Quanto tempo para viajar até lá? Pode ter vida? Quem abordou na ficção científica? Fique por dentro dessas e outras curiosidades sobre Alpha Centauri.

Impressão artística de um planeta no sistema estelar de Alpha Centauri. Imagem: Wikimedia Commons
Impressão artística de um planeta no sistema estelar de Alpha Centauri. Imagem: Wikimedia Commons

Alpha Centauri é um sistema estelar localizado a pouco mais de quatro anos-luz de distância, na direção da constelação de Centauro. Ele é o sistema estelar mais próximo da Terra, sendo foco de interesse de astrônomos na busca por exoplanetas potencialmente habitáveis, bem como na compreensão da dinâmica estelar. 

Vale destacar que o sistema de Alpha Centauri é bem diferente do nosso. Isso porque ele é um sistema triplo, composto por estrelas: Alpha Centauri A, Alpha Centauri B e Proxima Centauri (também conhecida como “Alpha Centauri C”). 

As duas primeiras são estrelas que orbitam um centro de massa comum, formando um sistema binário. Proxima Centauri, por sua vez, é uma anã vermelha que orbita este par a uma distância muito maior. Confira as principais características delas:

Alpha Centauri A (também chamada de Rigil Kentaurus)

  • Tipo espectral: G2V (semelhante ao Sol)
  • Massa: Aproximadamente 1,1 vezes a massa do Sol
  • Diâmetro: Cerca de 1,2 vezes o do Sol
  • Temperatura superficial: Aproximadamente 5.790 K
  • Luminosidade: Cerca de 1,5 vezes a do Sol

Alpha Centauri B (Toliman)

  • Tipo espectral: K1V
  • Massa: Cerca de 0,97 vezes a massa do Sol
  • Diâmetro: Aproximadamente 86% do diâmetro solar
  • Temperatura superficial: Cerca de 5.260 K
  • Luminosidade: Aproximadamente 50% da luminosidade solar

Proxima Centauri

  • Tipo espectral: M5.5Ve (anã vermelha)
  • Massa: Cerca de 12,5% da massa do Sol
  • Diâmetro: Aproximadamente 14% do diâmetro solar
  • Temperatura superficial: Menor que 3.000 K
  • Luminosidade: apenas 0,0017 da luminosidade solar

Em resumo, Alpha Centauri A é a estrela mais brilhante do sistema. Seu nome “Rigil Kentaurus” vem do árabe e significa “pé do Centauro”. Ela é uma estrela muito semelhante ao Sol em termos de tamanho, massa e luminosidade.

Já Alpha Centauri B é ligeiramente menor e menos luminosa que sua companheira, apresentando temperaturas superficiais um pouco mais baixas, mas ainda assim compartilhando características com o nosso Sol.

Da esquerda para a direita, a comparação do tamanho entre o Sol com as estrelas Centauri A, Centauri B e Proxima Centauri. Imagem: Wikimedia Commons/RJHall
Da esquerda para a direita, a comparação do tamanho entre o Sol com as estrelas Centauri A, Centauri B e Proxima Centauri. Imagem: Wikimedia Commons/RJHall

Proxima Centauri, a menor, mas a mais interessante

Por fim, Proxima Centauri – como o nome já entrega – é a estrela do trio mais próxima da Terra, situada a aproximadamente 4,22 anos-luz. Por ser uma anã vermelha, é significativamente menor, menos massiva e menos luminosa que Alpha Centauri A e B. 

A estrela tem uma massa de cerca de 12,5% do Sol e um diâmetro de cerca de 14% da nossa estrela. No entanto, Proxima Centauri é cerca de 33 vezes mais densa que o Sol.

Apesar de sua baixa luminosidade, Proxima Centauri é uma estrela ativa conhecida como “estrela eruptiva”. Ela experimenta erupções repentinas que podem aumentar drasticamente seu brilho em curtos períodos, devido à atividade magnética intensa em sua superfície.

Além disso, Proxima Centauri é de grande interesse científico, especialmente devido aos planetas que orbitam ao seu redor. Aliás, a descoberta de exoplanetas em torno de Proxima Centauri tem sido um marco na astronomia moderna. 

Em 2016, foi anunciado o achado de Proxima Centauri b, um planeta com pelo menos 1,3 vezes a massa da Terra. Este exoplaneta orbita sua estrela a cada 11,2 dias terrestres e está localizado na zona habitável de Proxima Centauri.

Ou seja, ela está em uma distância ideal onde as temperaturas podem permitir a existência de água líquida na superfície. Por isso, a possibilidade de um planeta semelhante à Terra tão próximo de nós despertou inúmeras especulações sobre a existência de vida extraterrestre.

Concepção artística do exoplaneta Proxima b, orbitando a estrela Proxima Centauri. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução
Concepção artística do exoplaneta Proxima Centauri b, orbitando a estrela Proxima Centauri. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Além de Proxima Centauri b, outros planetas também já foram identificados no sistema. Proxima Centauri c, descoberto em 2019, é um exoplaneta com cerca de 5,8 vezes a massa da Terra, mas provavelmente não é habitável devido à sua distância maior da estrela e à natureza possivelmente gasosa. 

E, mais recentemente, em 2022, foi anunciado Proxima Centauri d, um planeta com apenas 0,26 vezes a massa da Terra, tornando-se um dos exoplanetas mais leves já detectados. Sua órbita extremamente próxima à estrela hospedeira levanta questões sobre sua composição e possibilidade de abrigar vida.

Tem planetas em Alpha Centauri A e B?

A existência de planetas em torno de Alpha Centauri A e B é mais difícil de confirmar devido ao brilho intenso dessas estrelas, o que dificulta a detecção de pequenos corpos orbitando ao seu redor.

Porém, em 2012, cientistas anunciaram a possível descoberta de Alpha Centauri Bb, um planeta com massa semelhante à da Terra orbitando Alpha Centauri B. No entanto, sua proximidade extrema com a estrela resultaria em temperaturas superficiais altíssimas, tornando-o inóspito para a vida como a conhecemos.

A busca por planetas habitáveis em Alpha Centauri é alimentada não apenas pela proximidade do sistema, mas também pelas semelhanças das estrelas com o nosso Sol. Alpha Centauri A, por exemplo, é quase um gêmeo solar, o que sugere que planetas em sua zona habitável poderiam ter condições semelhantes às da Terra. 

No entanto, a dinâmica do sistema triplo e a interação gravitacional entre as estrelas – “o famoso problema dos 3 corpos” – podem influenciar significativamente a formação e estabilidade de órbitas planetárias.

Pode haver vida em Proxima Centauri b?

A estrela Proxima Centauri, apesar de ser uma anã vermelha, apresenta desafios únicos para a habitabilidade no planeta Proxima b. Anãs vermelhas são conhecidas por sua longevidade, podendo permanecer na sequência principal por trilhões de anos.

No caso de Proxima Centauri, ela tem atualmente 4,9 bilhões de anos de idade (ligeiramente mais velha que o Sistema Solar), e deve brilhar por pelo menos mais 4 trilhões de anos. A título de comparação, estrelas como o Sol brilham por apenas 10 bilhões de anos. 

Porém, Proxima Centauri é uma estrela eruptiva, propensa a erupções que podem aumentar drasticamente seu brilho em curtos períodos. Essas erupções liberam grandes quantidades de radiação — incluindo raios X e ultravioleta — que podem erodir a atmosfera de planetas próximos e dificultar o desenvolvimento de vida.

De acordo com a NASA, estima-se que o planeta receba uma média de doses de raio X cerca de 500 vezes maior que a Terra recebe do Sol. Além disso, em grandes explosões, esse nível pode chegar a ser 50 mil vezes maior.

Ainda assim, a possibilidade de vida em planetas como Proxima Centauri b não pode ser descartada. Se o planeta possuir um campo magnético forte e uma atmosfera densa, poderia proteger sua superfície da radiação estelar. Além disso, a comunidade científica está interessada em estudar como a vida poderia evoluir em ambientes tão diferentes do nosso.

Vale lembrar que, devido à proximidade com sua estrela, o exoplaneta Proxima Centauri b provavelmente tem sua rotação travada. Ou seja, ele deve ter um lado do planeta sempre voltado para estrela, o que também pode contribuir para um ambiente mais extremo para a vida.

Contudo, a possibilidade de que Alpha Centauri possa abrigar planetas habitáveis alimenta não apenas a pesquisa científica, mas também a imaginação popular. A ideia de um planeta semelhante à Terra tão próximo de nós levanta questões profundas sobre a existência de vida além do nosso Sistema Solar e sobre o futuro da humanidade como espécie exploradora do cosmos.

Mais curiosidades sobre o sistema Alpha Centauri

Alpha Centauri foi catalogada como uma estrela pelo astrônomo Ptolomeu no século II d.C. Ela era citada no Almagesto, um catálogo escrito por volta de 150 d.C. 

Apesar de ter sido documentada na Antiguidade, foi somente em 1689 que os astrônomos descobriram que ela era composta por múltiplas estrelas. Na época, o padre jesuíta francês Padre Jean Richaud descobriu que Alpha Centauri era um sistema binário (sic) enquanto observava um cometa.

Já a pequena Proxima Centauri só foi descoberta dois séculos depois, em 1915, pelo astrônomo escocês Robert Thorburn Ayton Innes. O nome vem do latim e significa “mais próximo de Centaurus”.

O sistema estelar é o terceiro mais brilhante no céu noturno – depois de Sirius e Canopus –, sendo visível apenas a partir de latitudes ao sul até 29 graus norte, tornando-se assim uma visão exclusiva para observadores no hemisfério sul.

>> veja também: Qual a estrela mais brilhante do céu noturno?

Além disso, Alpha Centauri é um dos poucos sistemas estelares triplos conhecidos e próximos, oferecendo uma oportunidade única de estudar a interação entre estrelas múltiplas e seus efeitos em possíveis sistemas planetários.

Encontrar Alpha Centauri no céu é muito fácil, pois ela está nas proximidades do Cruzeiro do Sul. A estrela fica onde seria o “joelho” do Centauro. Um pouco mais à sua direita, a oeste, está sua companheira Beta Centauri (também chamada de Hadar), da mesma constelação.

À esquerda, a estrela mais brilhante é o sistema Alpha Centauri, distante cerca de 4,37 anos-luz; ao lado da também brilhante de Beta Centauri, um sistema binário a 361 anos-luz. Imagem: ESO/Reprodução
À esquerda, a estrela mais brilhante é o sistema Alpha Centauri, distante cerca de 4,37 anos-luz; ao lado da também brilhante de Beta Centauri, um sistema binário a 361 anos-luz. Imagem: ESO/Reprodução

Quanto tempo levaria até Alpha Centauri?

Como já mencionado, Próxima Centauri é a estrela mais próxima do Sistema Solar. Ela fica a 4,2 anos-luz de distância – o que daria 39,7 trilhões de quilômetros. De acordo com um estudo da MIT, realizar uma viagem até o sistema com a tecnologia atual levaria 6.300 anos.

Isso significa que uma viagem até lá precisará de uma nave geracional, com humanos precisando se reproduzir entre si durante a jornada, garantindo a chegada de uma tripulação saudável em Proxima Centauri. Vale ressaltar que eles ainda podem correr o risco de chegar lá e encontrar planetas com ambientes que não são propícios para a vida humana.

Porém, projetos ambiciosos, como o Breakthrough Starshot, propõem não enviar humanos, mas minúsculas naves para explorar o sistema. A ideia é enviar nano-sondas equipadas com velas solares e impulsionadas por lasers terrestres, capazes de alcançar até 20% da velocidade da luz. 

Isso permitiria que essas sondas chegassem a Alpha Centauri em cerca de 20 anos, transmitindo dados valiosos sobre o sistema e seus planetas. Embora ainda em estágio conceitual, iniciativas como esta demonstram o interesse crescente em explorar nosso vizinho estelar mais próximo.

Uma das melhores fotos das estrelas Alpha Centauri A e Alpha Centauri B, captadas pelo telescópio espacial Hubble. Imagem: NASA/ESA/Reprodução
Uma das melhores fotos das estrelas Alpha Centauri A e Alpha Centauri B, captadas pelo telescópio espacial Hubble. Imagem: NASA/ESA/Reprodução

Alpha Centauri na ficção científica

A possibilidade de viagens humanas para Alpha Centauri permanece, por enquanto, no reino da ficção científica. Aliás, vários contos, séries e filmes já especulavam sobre a existência de planetas em Alpha Centauri, muito antes da descoberta de Proxima b.

Em “Far Centaurus”, por exemplo, um conto de 1944 de A. E. ​​van Vogt, uma expedição chega a Alpha Centauri após hibernar em sua lenta nave espacial por séculos. Eles são recebidos lá por uma civilização avançada e estabelecida há muito tempo de humanos, que também viajaram para o planeta da Terra.

Em “The Sparrow”, de Mary Doria Russell, uma missão jesuíta é enviada ao planeta Rakhat no, sistema de Alpha Centauri, em resposta a misteriosos sinais de rádio. A expedição termina em tragédia para todos os envolvidos.

Em “Clãs da Lua Alfa”, de Philips K. Dick, Alpha III M2 é uma colônia em uma lua orbitando um planeta de Alpha Centauri, cujos habitantes são descendentes de pacientes em uma instituição mental em um satélite. O enredo gira em torno de um esquema enganoso do governo da Terra para recuperar o controle de sua colônia rebelde.

Em “Voyage From Yesteryear”, de James P. Hogan, um conflito apocalíptico na Terra no início do século 21 faz a humanidade enviar uma sonda na direção de Alpha Centauri com úteros artificiais implantados com embriões humanos, além de robôs de criação para criar os bebês até a idade adulta. 

Em “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams, prestes a destruir o planeta Terra, a frota de naves vogons justifica a ação dizendo que os planos de demolição do planeta estavam expostos há 50 anos no departamento local de planejamento em Alpha Centauri. Os vogons ainda dizem “como assim, nunca estiveram em Alpha Centauri? Ora bolas, humanidade, fica só a quatro anos-luz daqui!”.

Além disso, a trilogia de livros (e agora série) “O Problema dos 3 Corpos”, de Cixin Liu, também aborda uma raça alienígena vivendo em um sistema estelar chamado de “Alpha Centauri”. Apesar de a descrição não ser exatamente igual à de Alpha Centauri, o sistema também possui três estrelas, incluindo um planeta habitável. Nele, vivem os trissolarianos (“San-Ti”, na série), uma raça que enfrenta eras caóticas de destruição global. Isso ocorre pelo fato de o planeta ter sua órbita aleatória sendo alterada constantemente, devido à interação gravitacional das 3 estrelas. 

Ainda na TV, temPerdidos no Espaçoretratando uma família viajando para Alpha Centauri em busca de um novo lar, quando acabam se perdendo no espaço.

Por fim, em “Star Trek”, o sistema estelar de Alpha Centauri foi um dos primeiros a serem colonizados pelos humanos. Inclusive, Zefram Cochrane — o pai do motor de dobra –, vivia na colônia de Alpha Centauri, antes de partir em sua viagem final. Alpha Centauri também é descrito como o quinto membro fundador da Federação dos Planetas Unidos.

No entanto, os desafios tecnológicos e físicos de uma viagem interestelar são enormes. A distância de mais de quatro anos-luz exigiria tecnologias de propulsão muito além das atuais, bem como soluções para problemas como a exposição prolongada à radiação cósmica e a necessidade de sustentar a vida humana por décadas ou séculos em uma nave espacial.

Apesar dos obstáculos, a exploração de Alpha Centauri continua a ser uma prioridade para a astronomia. Novos telescópios, tanto terrestres quanto espaciais, estão sendo projetados para estudar o sistema com maior precisão. O telescópio TOLIMAN, por exemplo, é uma missão dedicada a detectar planetas semelhantes à Terra em Alpha Centauri.

Sobre o Autor

Hemerson Brandão
Hemerson Brandão

Hemerson é editor, repórter e copywriter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.