Secretário-geral da ONU criticou a ida de bilionários ao espaço
António Guterres afirmou que o turismo espacial aumenta a desconfiança da população nas instituições.
Na última semana, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, criticou a ida de bilionários ao espaço. A fala ocorreu durante discurso na Assembleia Geral.
“Ao mesmo tempo, outra doença está se espalhando em nosso mundo hoje: o mal da desconfiança”, afirmou o secretário-geral após mencionar a pandemia e a crise climática. Isso inclui, disse ele, quando as pessoas “veem bilionários viajando para o espaço enquanto milhões passam fome na Terra”.
Guterres equiparou o turismo espacial de bilionários à corrupção e à perda de liberdades no que ele chamou de “doença da desconfiança”. Segundo ele, o voo espacial privado aumenta a desconfiança que a população mundial tem em relação aos governos e outras instituições.
Guterres não se aprofundou na questão do turismo espacial e nem citou empresas ou pessoas. Entretanto, somente neste ano, tivemos três voos privados com a presença de bilionários: Richard Branson por meio da Virgin Galactic, Jeff Bezos pela Blue Origin, e Jared Isaacman com a SpaceX (do também bilionário Elon Musk).
Entre os três bilionários, Jared Isaacman foi o único que utilizou a viagem ao espaço para apoiar uma causa social. Por meio da Inspiration4, ele promoveu uma arrecadação de fundos para um hospital de câncer infantil dos Estados Unidos. Além disso, ele convidou pessoas comuns para participar da missão e realizou pesquisas científicas e médicas em órbita, durante os 3 dias de voo. Dados da missão privada também serão compartilhados com a NASA.
Vale destacar que a critica se refere apenas ao turismo espacial feito por bilionários e não a exploração espacial privada de forma geral. A ONU, por exemplo, tem interesse em promover viagens ao espaço em parceria com empresas privadas, com o objetivo de ajudar países pobres a realizar experimentos em microgravidade e ter acesso a tecnologias de desenvolvimento sustentável.
O Brasil, por meio da Agência Espacial (AEB), por exemplo, também é parceiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que tem entre os seus objetivos o de estimular o mercado espacial, a partir da iniciativa privada e estrangeira nas atividades espaciais.
Turismo espacial
As críticas ao turismo espacial começaram em julho deste ano, logo após o voo de Branson na SpaceShipTwo, da Virgin Galactic. Até mesmo na indústria espacial houve manifestações contrárias.
“Todos na sociedade, todos os cidadãos do mundo, deveriam se beneficiar do espaço, e não apenas alguns bilionários que querem fazer círculos ao redor do planeta”, disse Jean-Marc Nasr, vice-presidente executivo e chefe de sistemas espaciais da Airbus.
Entretanto, também há aqueles que defendem os voos de bilionários, como é o caso de George Nield, ex-administrador associado de transporte espacial comercial na Administração Federal de Aviação (FAA) e atual membro do Painel Consultivo de Segurança Aeroespacial da NASA.
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“Pessoalmente, acho que esses lançamentos foram muito significativos em termos de marcar o que poderia ser uma nova era de voos espaciais humanos comerciais. Além de permitir que mais pessoas vão para o espaço, permitirá que a NASA tenha a oportunidade de ser apenas um entre muitos clientes”, afirmou Nield.
“Tem o potencial de resultar em custos mais baixos, maior inovação, novos produtos e serviços e novos mercados e motivar alunos e professores sobre STEM [sigla em inglês para “Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”], o que nos ajudará a desenvolver a força de trabalho aeroespacial de que precisamos no futuro”, concluiu ele.
No Congresso dos Estados Unidos, parlamentares já estudam uma proposta de legislação para taxar os voos de turismo espacial. “Assim como os americanos normais pagam impostos quando compram passagens aéreas, os bilionários que voam para o espaço para produzir nada de valor científico deveriam fazer o mesmo, e mais um pouco”, disse o deputado Earl Blumenauer, do partido Democrata.
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