Sucessor do ‘Telescópio Espacial Hubble’ pode estar homenageando um homofóbico, mas agência espacial se recusa a mudar o nome.

Um grupo de astrônomos e entusiastas da astronomia assinaram uma petição pública para exigir que a NASA altere o nome do Telescópio Espacial James Webb (JWST). Ao todo, mais de 1200 pessoas já assinaram a petição.

O lançamento do novo telescópio espacial está programado para o próximo dia 18 de dezembro. Ele leva o nome de James Edwin Webb, o administrador da NASA entre os anos de 1961 e 1968, durante os primeiros voos tripulados da agência espacial americana, nos projetos Mercury e Gemini, considerados fundamentais para o programa Apollo, que levou Neil Armstrong e Buzz Aldrin a caminharem na Lua.

Entretanto, antes de assumir o comando da agência espacial, James Webb foi subsecretário no Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, na década de 1950. Segundo a petição, há evidências de que ele esteve envolvido diretamente com políticas que buscavam afastar gays e lésbicas de cargos governamentais, o que resultou na demissão de 91 homossexuais.

A petição também cita o caso de Clifford L. Norton, um ex-administrador de orçamento da NASA que foi demitido por ser gay em 1963, quando Webb era administrador da agência espacial. Na época, o argumento utilizado era de que ele possuía uma “conduta imoral” e por possuir “traços de personalidade” que o tornaria inadequado para o serviço público.

No episódio, Norton chegou a ser preso pela polícia após ser observado falando com outro homem, sendo levado para interrogatório por suspeita de homossexualidade. O caso ganhou destaque em 1969, quando Norton processou e ganhou uma ação na Justiça.

Por outro lado, há quem afirme que Webb não estava envolvido com a criação de políticas homofóbicas no Departamento de Estado americano, nem mesmo com a demissão de Norton. O nome de Webb não foi citado no processo na Justiça, por exemplo.

Webb faleceu em 1992, aos 85 anos. Estando ou não envolvido, muitos cientistas lamentam que a NASA pretenda homenagear um homem cujo legado é questionável, controverso ou mesmo cúmplice de uma política de discriminação no governo dos EUA e dentro da NASA.

Vale destacar que ainda hoje existem denúncias de assédio e exclusão de astrônomos homossexuais no ambiente de trabalho, como destacou em um relatório a Sociedade Americana de Física, dos Estados Unidos.

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Telescópio Espacial James Webb

O novo telescópio tem sido desenvolvido nos últimos 25 anos. O anúncio que ele se chamaria “James Webb” foi feito pela NASA em 2002.

Muitos dos que assinaram a petição – organizada pela cosmologista Chanda Prescod-Weinstein – são cientistas que vão utilizar o futuro telescópio em suas pesquisas.

“Chegou a hora de escolher um futuro inspirador para todos nós. Exigimos que a NASA renomeie JWST imediatamente e conceda essa honra a alguém cujo legado é adequado a um telescópio cujos dados serão usados ​​em descobertas que inspirarão futuras gerações de astrônomo”, afirmaram os astrônomos em petição.

No texto, também é sugerido o nome de Harriet Tubman para o telescópio, uma abolicionista e ativista americana. Ela nasceu escravizada, em 1822, escapou da escravidão e conseguiu ajudar na libertação de cerca de 300 escravos. Um asteroide já foi batizado com o nome de Tubman.

“Nós, os futuros usuários do telescópio espacial de próxima geração da NASA e aqueles que herdarão seu legado, exigimos que este telescópio receba um nome digno de suas notáveis ​​descobertas, um nome que representa um futuro no qual todos seremos livres”, completou.

Porém, segundo o site americano NPR, a NASA não tem intenção de alterar o nome do novo telescópio espacial, após fazer uma investigação, inclusive com a consulta de historiadores.

“Não encontramos nenhuma evidência neste momento que justifique a mudança do nome do Telescópio Espacial James Webb”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson.

A agência espacial americana não emitiu uma declaração pública sobre o caso, se limitando a informar a decisão de não mudar o nome do Telescópio James Webb para um pequeno número de jornalistas. O gesto foi considerado como lamentável e um péssimo exemplo de relações-públicas.

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