Leste ou oeste? Onde nasce o sol todas as manhãs

Spoiler: o local onde nasce o sol não é um ponto fixo no horizonte.

Foto do nascer do sol. Imagem: Ravi Sharma/Unsplash/Reprodução
Foto do nascer do sol. Imagem: Ravi Sharma/Unsplash/Reprodução

É muito comum ouvir a expressão “o sol nasce no leste e se põe no oeste”. Porém, por mais que ela tenha um fundo de verdade, esta frase é apenas uma generalização.

Embora a ideia de que o sol sempre nasce no leste e se põe no oeste esteja astronomicamente correta de modo geral, esse não é um fenômeno constante ao longo do ano. Ou seja, o sol não surge sempre em um mesmo ponto fixo.

Na verdade, o sol nasce e se põe exatamente nos pontos cardeais leste e oeste somente em dois dias por ano, durante os equinócios de primavera e outono.

Já nos demais dias do ano, os pontos onde o sol nasce e se põe mudam gradativamente, variando ligeiramente na direção do norte ou sul, dependendo da estação do ano.

Durante o solstício de verão, por exemplo, o sol nasce o mais ao nordeste possível e se põe o mais ao noroeste possível. A partir daí, ele começa a migrar lentamente em direção ao sul a cada dia até chegar o solstício de inverno, quando atinge sua posição mais ao sudeste no nascer e mais ao sudoeste no pôr do sol.

nascer do sol ao longo do ano
Da esquerda para a direita, comparação da posição onde nasce o sol em uma pequena cidade na Grécia nos dias de solstício de verão, equinócio de primavera/outono e no solstício de inverno. Imagem: Griffith Observatory/Reprodução

Além disso, é possível perceber que, durante o verão, o sol aparenta “subir” mais alto no céu, com os dias tendo mais horas de luz. Por outro lado, no inverno, o sol não sobe tanto no céu, quando experimentamos menos horas de claridade durante o dia.

Essa variedade na posição do sol também pode ser observada com a mudança do tamanho e posição das sombras ao longo do ano.

Esse movimento cíclico de onde nasce o sol é observado há milênios. Muitas culturas antigas acompanharam com precisão os pontos de nascimento e pôr do sol, usando formações naturais ou construções para estudar e marcar a passagem do tempo. A partir desses estudos foram criados os primeiros calendários baseados no movimento do sol e das estrelas, através de monumentos alinhados com os solstícios e equinócios, como o Stonehenge, por exemplo.

Mas por que o sol nasce “geralmente” na direção leste?

O principal motivo para o sol nascer na direção leste e se pôr no oeste é a rotação da Terra. O planeta gira em torno de seu eixo de oeste para leste, o que faz com que os objetos celestes, como o sol, a Lua e as estrelas apareçam no horizonte oriental e, ao longo do dia (ou da noite), se movam em direção ao horizonte ocidental. Esse movimento aparente, no entanto, é causado pela nossa própria rotação.

Para entender isso melhor, imagine que você está de frente para o leste. À medida que a Terra gira, ela o leva nessa direção, de modo que você começa a ver o sol, ou qualquer outro objeto celeste, “surgindo” no horizonte. Esse movimento é contínuo e constante, de modo que todos os dias assistimos ao sol repetindo esse ciclo de nascer e se pôr.

Além disso, a velocidade com que estamos nos movendo devido à rotação da Terra varia dependendo da nossa localização geográfica. Na linha do equador, a velocidade da rotação terrestre chega a 1.674 km/h – o que dá em torno de 465 metros por segundo.

Porém, conforme nos aproximamos das regiões polares da Terra, essa velocidade vai diminuindo. Na cidade de Brasília, por exemplo, a velocidade é de 1.610 km/h. Por outro lado, a capital de São Paulo tem velocidade de 1.536 km/h, enquanto em Porto Alegre é de 1.450 km/h.

>> veja também: O que é halo solar e como ele se forma?

A Ilusão do movimento solar

Por mais que o sol e o céu como um todo esteja se movendo, na verdade, é a Terra que está girando. Se você observar o nascer do sol de um ponto fixo, verá que ele “sobe” no horizonte. Isso acontece porque a rotação da Terra está levando você na direção leste, de modo que o Sol, fixo no centro do Sistema Solar, parece se deslocar.

No entanto, todo o Sistema Solar, incluindo o Sol, também está se movendo, mas em uma escala muito maior, o que torna esse movimento imperceptível em nosso dia a dia.

É interessante notar que, apesar da alta velocidade com que a Terra gira, não sentimos esse movimento. Isso acontece porque não temos órgãos sensoriais capazes de detectar velocidade constante. A menos que haja uma aceleração ou desaceleração repentina, nossa percepção é de que estamos imóveis.

Esse conceito pode ser comparado à experiência de viajar em um carro. Se o carro estiver em movimento constante e você não puder ver através das janelas do veículo, não perceberá a velocidade a menos que haja uma mudança brusca, como uma curva ou uma freada.

Além disso, o momento exato em que o sol nasce varia dependendo de onde você está no planeta. Como a Terra é uma esfera e está inclinada em seu eixo, diferentes regiões experimentam o nascer e pôr do sol em horários diferentes.

A inclinação da Terra também significa que, em determinadas épocas do ano, algumas regiões podem ter dias extremamente longos ou curtos. Nos polos, durante o verão, o sol pode nunca se pôr por meses, enquanto no inverno pode permanecer abaixo do horizonte por até metade do ano.

O papel da atmosfera no nascer e pôr do sol

Além do movimento do sol, outro fenômeno associado ao nascer e pôr do sol é a mudança de cor no céu.

Durante o dia, o céu é predominantemente azul devido a um fenômeno conhecido como espalhamento de Rayleigh, em que as partículas da atmosfera dispersam a luz solar. Como a luz azul é de menor comprimento de onda, ela é espalhada com mais intensidade.

No entanto, durante o nascer e pôr do sol, a luz tem que atravessar uma camada mais espessa da atmosfera, o que resulta em um maior espalhamento das cores azuis e verdes. O que sobra são as cores de maior comprimento de onda, como os tons avermelhados e alaranjados.

Esse efeito é amplificado por outros fatores atmosféricos, como a presença de partículas de poeira, poluição ou queimadas, que podem intensificar ainda mais as cores quentes.

Por-do-sol, pôr-do-sol, por do sol ou pôr do sol?

Na Língua Portuguesa, a grafia correta para o momento que o sol desaparece no horizonte ao anoitecer é pôr do sol (com acento e sem hífen). Isso porque “por” (sem acento) é uma preposição, enquanto “pôr” (com acento) é um verbo substantivado. Assim, como nos referimos à ação do sol desaparecer no horizonte, usamos o verbo substantivado.

Quanto ao hífen na expressão “pôr do sol”, ele deixou de ser usado a partir de 2016, com o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.

Já o plural de “nascer do sol” é “nasceres do sol”, enquanto de “pôr do sol” é “pores do sol”.

Ainda na Língua Portuguesa, usamos a palavra “sol” (com a primeira letra em minúsculo) quando se refere ao astro visto no céu, passando a ideia de luz ou de dia.

Por outro lado, para se referir à estrela – ao corpo celeste na astronomia situado no centro do Sistema Solar – usamos o “Sol” (com a primeira letra em maiúsculo).

Por fim, a expressão “nascer do sol” também pode ser substituída por “alvorada” ou “aurora”, enquanto o “pôr do sol” também é chamado de “ocaso do sol”.

Sobre o Autor

Hemerson Brandão
Hemerson Brandão

Hemerson é editor, repórter e copywriter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.