Betelgeuse: saiba tudo sobre a estrela prestes a explodir

Quando Betelgeuse explodir, o brilho da explosão será tão forte que vai ofuscar até a Lua.

Representação artística da estrela supergigante vermelha Betelgeuse. Imagem: ESO/Reprodução
Representação artística da estrela supergigante vermelha Betelgeuse. Imagem: ESO/Reprodução

A estrela Betelgeuse é um dos astros mais fascinantes observáveis no céu noturno. Ela está localizada na constelação de Órion, exatamente no ombro esquerdo do famoso caçador celestial Órion – inspirado na mitologia grega. Aliás, seu nome vem do árabe bat al-jawzāʾ, que significa “o ombro do gigante”. 

Essa estrela tem atraído a atenção da humanidade por séculos, tanto por sua coloração vermelha vibrante quanto por suas características peculiares.

Ela é uma estrela supergigante vermelha, uma das maiores já descobertas em nossa galáxia. Ela tem um diâmetro estimado de 1,2 bilhões de km, sendo mais de 700 vezes maior que o Sol. 

A título de comparação, se Betelgeuse estivesse no lugar do Sol em nosso Sistema Solar, seu raio se estenderia além da órbita de Júpiter. Embora seja gigantesca, a estrela não é tão quente quanto o Sol, com uma temperatura superficial em torno de 3.300º C — comparada aos 5.500º C do Sol. No entanto, brilha entre 7.500 e 14.000 vezes mais intensamente que nossa estrela.

Além disso, essa estrela está em uma fase avançada de sua vida, o que a classifica como uma gigante vermelha. Estrelas dessa classe têm idades relativamente curtas em comparação a estrelas como o Sol. Isso porque Betelgeuse tem apenas 10 milhões de anos de idade, enquanto o Sol está em sua meia-idade, com seus 4,6 bilhões de anos. 

Apesar de sua juventude relativa, Betelgeuse já consumiu todo o hidrogênio em seu núcleo e agora está em uma fase final na vida das estrelas massivas. 

O destino final de Betelgeuse

Imagem captada de Betelgeuse pelo observatório ALMA, do ESO. Imagem: ESO/NAOJ/NRAO)/E. O'Gorman/P. Kervella
Imagem captada de Betelgeuse pelo observatório ALMA, do ESO. Imagem: ESO/NAOJ/NRAO)/E. O’Gorman/P. Kervella

Uma das grandes questões que cercam Betelgeuse é se ela explodirá em uma supernova em breve. Uma supernova ocorre quando uma estrela massiva esgota seu combustível nuclear, colapsando sob sua própria gravidade e explodindo em seguida. 

Embora Betelgeuse esteja próxima do fim de sua vida, os astrônomos acreditam que ainda faltam cerca de 100 mil anos para que isso aconteça. Quando ocorrer, será um dos eventos mais espetaculares já vistos da Terra. Isso porque o brilho da explosão será tão intenso que ofuscará a Lua cheia e será visível até mesmo durante o dia.

No entanto, há incertezas sobre o momento exato dessa explosão. Modelos atuais sugerem que Betelgeuse ainda está na fase de fusão de hélio em carbono, uma fase que ainda pode durar centenas de milhares de anos. 

Também não se sabe ao certo se, após a explosão, ela se tornará uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. O destino final da estrela dependerá de quanto material resta após o evento da supernova.

De qualquer forma, sua proximidade relativa à Terra (cerca de 650 anos-luz) faz com que sua explosão seja um evento aguardado com expectativa pela comunidade científica e pelos entusiastas da astronomia. Felizmente, a estrela está longe o suficiente para não gerar danos ao nosso planeta. 

>>> leia também: Qual é a distância segura para estar de uma supernova?

O susto de 2019

Betelgeuse apresentou um escurecimento nunca antes visto. Imagem: ESO/M. Montagès et al.
Betelgeuse apresentou um escurecimento nunca antes visto. Imagem: ESO/M. Montagès et al.

Em 2019, algo notável aconteceu com Betelgeuse. A estrela passou por uma dramática queda de brilho, o que gerou especulações sobre a possibilidade de uma explosão iminente em supernova. 

Na época, a simples possibilidade de explosão ganhou atenção dos astrônomos, pois esta poderia ser a supernova mais próxima já observada e registrada por humanos.

Esse evento, chamado de “Grande Escurecimento”, fez com que a estrela perdesse cerca de 60% de sua luminosidade normal. Esse fenômeno foi posteriormente atribuído à ejeção massiva de material de sua superfície, que formou uma nuvem de poeira que bloqueou a luz da estrela.

Por coincidência, a ejeção ocorreu na direção da Terra, o que fez a estrela parecer muito mais fraca vista do nosso planeta, como visto na ilustração abaixo:

Ilustração da ejeção massiva de Betelgeuse entre o final de 2019 e início de 2020. Imagem: NASA/Reprodução.
Ilustração da ejeção massiva de Betelgeuse entre o final de 2019 e início de 2020. Imagem: NASA/Reprodução.

Na prática, ejetar material é bastante comum entre as estrelas. O nosso próprio Sol, por exemplo, faz isso rotineiramente, soprando material de sua atmosfera externa, ou corona, em eventos chamados ejeções de massa coronal.

Porém, Betelgeuse expeliu 400 bilhões de vezes mais massa do que normalmente é emitida durante uma ejeção de massa coronal. Cientistas acreditam que a estrela expeliu um pedaço de material que pesava várias vezes a massa da Lua.

Já em 2020, a estrela voltou ao seu brilho normal, mas a oscilação de luminosidade que ocorre a cada 400 dias se reduziu para 200 dias. 

Cientistas acreditam que a ejeção massiva, nunca antes vista, foi causada por uma pluma de gás borbulhando de dentro da estrela. No entanto, a causa exata e o mecanismo por trás disso ainda são desconhecidos.

Vale ressaltar que estudos feitos com telescópios espaciais em infravermelho apontam que a estrela é cercada por conchas de materiais ejetados nos últimos 100 mil anos. A maior delas tem quase 7,5 anos-luz de diâmetro.

De acordo com a NASA, esses fenômenos massivos podem ser bastante comuns no Universo. Porém, o evento com a Betelgeuse pode ter sido o primeiro observado devido à nossa familiaridade com a estrela, sua proximidade com o nosso planeta e grande tamanho, bem como nossa capacidade de observar a estrela inteira em detalhes com o Telescópio Espacial Hubble.

Importância cultural

Enquanto Betelgeuse não se torna uma supernova, a estrela se mantém no céu não apenas como um objeto de observação, mas também como uma figura importante em várias culturas ao longo da história. 

Na Grécia antiga, por exemplo, ela fazia parte da constelação de Órion, o caçador mitológico. Já os antigos egípcios associavam Betelgeuse à constelação de Osíris, o deus do submundo. 

Nos textos astronômicos antigos, sua cor foi descrita de maneiras diferentes, sugerindo que, em tempos passados, a estrela pode ter sido de uma coloração mais amarela, o que indica que a transição para uma supergigante vermelha pode ser um evento relativamente recente em termos cósmicos.

Astrônomos famosos como Cláudio Ptolemeu e Johann Bayer fizeram descrições detalhadas da estrela, e seu comportamento variável foi documentado ao longo dos séculos. Em 1836, o astrônomo John Herschel notou que o brilho de Betelgeuse mudava de forma periódica, uma descoberta que foi confirmada por outras observações mais recentes.

Além disso, há evidências de que a variação de brilho de Betelgeuse e outras gigantes vermelhas foi descrita muito antes nas tradições orais aborígenes.

Hoje, Betelgeuse é classificada como uma “estrela variável semiregular”, que é um tipo de estrela variável que periodicamente aumenta e diminui de brilho e ocasionalmente sofre mudanças irregulares de luz.

Além disso, telescópios espaciais como o Hubble, bem como radiotelescópios em terra, conseguiram capturar imagens detalhadas da estrela, revelando que ela não é uma esfera suave de plasma, mas uma massa irregular de bolhas gigantes de gás em ebulição. Essas observações ajudam a entender melhor a estrutura interna de Betelgeuse e sua eventual evolução.

Como observar Betelgeuse

Mapa da constelação de Órion, com Betelgeuse em destaque. Imagem: ESO/Reprodução
Mapa da constelação de Órion, com Betelgeuse em destaque. Imagem: ESO/Reprodução

Para observadores da Terra, Betelgeuse é uma das estrelas mais fáceis de localizar no céu noturno, principalmente durante os meses de verão e outono, no hemisfério Sul. 

Ela forma o ombro esquerdo da constelação de Órion e se destaca por sua cor avermelhada alaranjada distinta. Por ser a segunda estrela mais brilhante da constelação – além de a décima mais brilhante do céu noturno –, ela pode ser observada a olho nu até mesmo em cidades com alta taxa de poluição luminosa. 

Geralmente, Betelgeuse tem uma magnitude aparente de cerca de 0,58. Aliás, Betelgeuse também é uma das maiores estrelas visíveis a olho nu. Não é por acaso que ela é frequentemente usada como referência para identificar constelações vizinhas.

Já Órion se destaca no céu, principalmente, pelas três estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka — as famosas “Três Marias”. Para quem tem binóculos ou telescópios, a constelação também possui pontos de interesse, como a Nebulosa de Orion.

No Brasil, a partir de dezembro, a constelação fica visível no horizonte leste logo após o anoitecer, podendo ser observada durante toda a noite. Conforme os meses avançam, ela estará mais alta no céu, após o pôr do Sol. A partir de junho, ela não é observável.

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Sobre o Autor

Hemerson Brandão
Hemerson Brandão

Hemerson é editor, repórter e copywriter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.