História: Quem inventou o telescópio?

Confira qual é a origem do telescópio, quem inventou o instrumento e porque ele é uma das invenções mais importantes da humanidade.

Quem inventou o telescópio astronômico?
Imagem: Adriaen van de Venne

Muita gente acredita que Galileu Galilei foi quem inventou o telescópio. Contudo, a primeira patente de um telescópio da história foi registrada pelo alemão-holandês Hans Lippershey, no ano de 1608.

Lippershey era um fabricante de lentes para óculos e reivindicou a invenção de um novo dispositivo que focalizava e ampliava imagens distantes em até três vezes. Para isso, ele usou uma lente ocular côncava alinhada com uma lente objetiva convexa.

Acredita-se que Lippershey teve a ideia após ver crianças em sua loja segurando duas lentes que faziam um cata-vento distante parecer próximo. Por outro lado, também existem alegações de que ele teria roubado o design de outro fabricante de vidros, Zacharias Jansen.

Vale ressaltar que Jansen e Lippershey moravam na mesma cidade e ambos trabalhavam na fabricação de instrumentos ópticos. Historiadores argumentam que não há evidências reais de que Lippershey tenha desenvolvido o seu telescópio de forma independente, mas ele recebe o crédito por ter feito primeiro o pedido de patente.

Além disso, o holandês Jacob Metius, também solicitou a patente de um telescópio algumas semanas depois de Lippershey. Porém, o governo da Holanda recusou os pedidos de patentes, por considerar que o dispositivo era fácil de ser reproduzido, o que dificultava o processo de registro.

Os primeiros telescópios eram feitos de tubos longos com uma ou várias seções cilíndricas fabricados de estanho, chumbo, papelão e madeira unidos por cobre, tecido, couro ou cola. Lentes polidas e espelhos eram colocados dentro desses tubos de forma que eles pudessem ampliar as imagens.

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O telescópio astronômico de Galileu Galilei

Inicialmente, os primeiros telescópios foram utilizados para fazer observações terrestres, principalmente em levantamentos ou em táticas militares. Porém, foi nas mãos do italiano Galileu Galilei que o telescópio passou a se popularizar como um instrumento de observação astronômica.

Em 1609, Galileu ouviu falar sobre os “óculos de perspectiva holandesa” e construiu o seu próprio telescópio refrator – que ficou conhecido como “luneta”. Não apenas isso, mas ele também fez algumas melhorias no instrumento, permitindo ampliar objetos observados em até 20 vezes.

Os dois únicos exemplares de telescópios sobreviventes da vasta produção de Galileu. Imagem: Institute and Museum of the History of Science

Galileu apontou o telescópio para o céu e foi capaz de distinguir montanhas e crateras na Lua, as estrelas que fazem parte da luz difusa da Via-Láctea, observou manchas solares, viu pela primeira vez os anéis de Saturno, assim como descobriu as quatro maiores luas de Júpiter.

Na mesma época de Galileu, o etnógrafo e matemático britânico Thomas Harriot também usou uma luneta para observar a Lua. Inclusive, há registros que ele fez os primeiros desenhos da Lua, antes mesmo do famoso cientista italiano.

Porém, diante dessas grandes descobertas através do telescópio – consideradas heréticas pela Igreja – Galileu foi chamado a comparecer perante à inquisição em Roma, em 1633. Ele teve que fazer um acordo judicial e foi condenado à prisão domiciliar, onde continuou a trabalhar e escrever até sua morte em 1642.

A partir de Galileu, o instrumento passou a receber novas atualizações por nomes conhecidos da astronomia — como Kepler e Newton –, dando origem a todos os tipos de telescópios modernos — inclusive as versões espaciais atuais, como o Hubble ou o James Webb.

Pintura de 1754 de HJ Detouche com Galileu Galilei exibindo seu telescópio para Leonardo Donato e o Senado veneziano.

Qual é a importância do telescópio?

O telescópio revolucionou a história da humanidade de várias maneiras, mudando profundamente nossa compreensão do universo e nosso lugar nele. Este instrumento tornou-se uma ferramenta fundamental na astronomia, permitindo aos cientistas observar objetos celestes com uma clareza e precisão nunca antes possíveis. 

Com o avanço dos telescópios, os astrônomos foram capazes de investigar a natureza da Via Láctea e identificar inúmeras outras galáxias, expandindo nossa percepção do tamanho e da estrutura do universo.

Além disso, observações telescópicas precisas permitiram a Johannes Kepler formular suas leis do movimento planetário, que descrevem como os planetas orbitam ao redor do Sol. Essas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento da física celeste e da mecânica newtoniana, expandindo não apenas o nosso conhecimento da ciência, mas permitindo a exploração espacial.

O telescópio também desempenhou um papel crucial na validação da teoria da relatividade geral de Albert Einstein. Observações de um eclipse solar em 1919, a partir do Brasil, mostraram a curvatura da luz ao redor do Sol, fornecendo a primeira prova observacional da teoria.

Além disso, o telescópio forçou a humanidade a refletir sua compreensão do universo e seu lugar nele. Isso teve um impacto profundo em muitos aspectos da sociedade – desde a filosofia à religião –, iniciando um movimento em direção a uma visão mais científica e empírica do mundo.

Por fim, os telescópios tornaram a astronomia acessível a um público mais amplo, promovendo a educação científica e aumentando o interesse público pelo espaço e pela ciência em geral.

Qual é o maior observatório astronômico do Brasil?

Atualmente, o maior observatório do Brasil está instalado no Pico dos Dias, localizado na divisa entre os municípios mineiros de Brazópolis e Piranguçu. O Observatório do Pico dos Dias (OPD) é operado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e fica a aproximadamente 1.864 metros acima do nível do mar – cerca de 900m acima do nível médio da região.

O local foi escolhido devido à baixa poluição luminosa e à estabilidade atmosférica, proporcionando condições ideais para observações astronômicas. O OPD é equipado com telescópios de alta precisão, incluindo o maior telescópio óptico do Brasil, com 1,6 metro de diâmetro e estando em funcionamento desde 1981.

Foto do telescópio de 1,6 metro instalado no Observatório Pico dos Dias. Imagem: LNA/Reprodução

O observatório conta ainda com um telescópio de 600 mm, instalado em 1992, através de um convênio entre o Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo e o LNA; bem como outro de 600 mm adquirido da ex-Alemanha Oriental em troca de café nos anos 1960/1970.

O observatório desempenha um papel vital na pesquisa astronômica nacional e internacional, com foco em áreas como a astrofísica estelar, galáctica e extragaláctica.

Além do OPD, confira outros observatórios brasileiros:

Observatório Nacional (ON)

Localizado no Rio de Janeiro, o Observatório Nacional é uma das mais antigas instituições científicas do país, fundado em 1827. Especializado em astronomia, geofísica e metrologia, o ON possui telescópios voltados tanto para pesquisas quanto para atividades de ensino e divulgação científica. Uma de suas principais contribuições é no campo da astrometria, estudo que permite determinar a posição e o movimento de corpos celestes, sendo essencial para a navegação e para a compreensão da dinâmica do universo.

Observatório Astronômico de Serra da Piedade

Localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, o Observatório Astronômico de Serra da Piedade, administrado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é um centro importante para a pesquisa e o ensino de astronomia no Brasil. Com uma vista privilegiada e longe das interferências urbanas, o observatório é um excelente local para observações do céu noturno. Ele oferece programas educacionais e de divulgação científica, incentivando o interesse público pela astronomia.

Observatório Abrahão de Moraes

Nomeado em homenagem ao renomado astrônomo brasileiro Abrahão de Moraes, este observatório está localizado em Valinhos, São Paulo. Operado pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), o Observatório Abrahão de Moraes tem desempenhado um papel na formação de astrônomos brasileiros e na realização de pesquisas em áreas como a dinâmica estelar e a observação de corpos menores do sistema solar. Suas instalações incluem telescópios modernos e equipamentos de ponta, facilitando a realização de estudos astronômicos avançados. Aliás, o local também promove sessões públicas de observação do céu por meio de agendamento.

Polo Astronômico de Amparo

O maior telescópio do Brasil aberto ao público geral está localizado no Polo Astronômico da cidade de Amparo, no interior de São Paulo, com um instrumento de 650 mm de abertura. Atualmente, ele também é o maior em operação no Estado de São Paulo. Geralmente, telescópios desse porte são usados no país exclusivamente para pesquisa, sem acesso a visitantes.

Foto do principal telescópio do Polo Astronômico de Amparo. Imagem: Facebook/Reprodução

Além do telescópio, o complexo conta com mais três telescópios refletores de 360 mm, 340 mm e 200 mm de abertura, um refrator de 150 mm, e mais dois instrumentos para a observação solar. O local conta ainda com planetário com domo de oito metros, restaurante, praça e trilha ecológica.

O Polo Astronômico fica numa área de 60 mil metros quadrados, às margens da Serra da Mantiqueira, e foi inaugurado em setembro de 2015. Toda a infraestrutura é acessível por meio de sessões públicas aos sábados ou por meio de agendamento para escolar.

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Sobre o Autor

Hemerson Brandão

Hemerson é jornalista, escreve sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Ele também é grande entusiasta de astronomia, interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.