O que são cometas: saiba a origem, os famosos e mais curiosidades

Além de descobrir o que são cometas, saiba também qual a importância dessas astros, quais os tipos existem e como são escolhidos os nomes.

Cometa ISON. Imagem: NASA/MSFC/Aaron Kingery
Cometa ISON. Imagem: NASA/MSFC/Aaron Kingery

Com suas caudas luminosas e núcleos gelados, os cometas têm cativado a imaginação humana por milênios. Ao longo da história, esses “viajantes cósmicos” foram muitas vezes interpretados como mensageiros de presságios ou símbolos de grandes mudanças. Por isso, eles figuraram em vários registros antigos, incluindo representações em obras de arte ou mesmo na literatura. Ou seja, a humanidade sempre teve a curiosidade em aprender mais sobre o que são cometas.

Hoje, estes astros são considerados como verdadeiras “cápsulas do tempo” do Sistema Solar primitivo. Seu estudo oferece pistas valiosas sobre a composição inicial do Sistema Solar e pode ajudar os cientistas a entender melhor a origem da água na Terra ou mesmo encontrar pistas da origem da vida. 

Qual o significado de “cometas”?

A palavra “cometa” vem do grego “kometes“, que significa “cabeludo”. O termo foi utilizado pela primeira vez por antigos astrônomos gregos para descrever a aparência nebulosa e com cauda desses objetos no céu. Isso reflete a forma como os antigos observadores do céu interpretavam a aparência desses astros: como estrelas com “cabelos” (ou caudas) brilhantes estendendo-se pelo céu noturno.

Com o passar dos séculos, a palavra evoluiu através do latim até chegar às línguas modernas, mantendo-se fiel às suas raízes etimológicas. Inclusive, houve registros do fenômeno astronômico por várias culturas ao longo da história.

Na antiguidade, a aparição súbita de um cometa no céu noturno era frequentemente interpretada como um sinal dos deuses, capaz de prenunciar eventos significativos. No Antigo Egito, por exemplo, cometas eram considerados fenômenos celestiais significativos, muitas vezes associados a eventos de grande importância. Os egípcios acreditavam que os cometas eram manifestações dos deuses e poderiam prenunciar mudanças significativas ou eventos cataclísmicos.

A China possui um dos registros mais longos e contínuos de observações de cometas, datando de até 1059 a.C. Na China antiga, eles eram meticulosamente catalogados, e sua aparição era considerada uma mensagem direta do céu para os imperadores — indicando aprovação ou desaprovação celestial.

Para os povos mesoamericanos, como os Maias e os Astecas, os cometas eram também sinais divinos. Eles eram interpretados como presságios de guerras, fome ou a queda de um governante. Essas civilizações desenvolveram sofisticados calendários astronômicos e davam grande importância à astronomia em suas práticas religiosas e cotidianas.

Como não sabia o que são cometas, muitas tribos nativas americanas viam esses astros como presságios ou mensageiros que carregavam significados espirituais profundos. Alguns povos viam esses fenômenos como anúncios de mudanças iminentes ou eventos de grande importância para a comunidade.

Afinal, o que são cometas?

Os cometas são corpos celestes compostos principalmente de gelo, poeira e gases congelados, como dióxido de carbono, amônia e metano. Eles se originam nas regiões mais frias e distantes do Sistema Solar, especificamente na Nuvem de Oort e no Cinturão de Kuiper, que agem como reservatórios desses viajantes antigos.

À medida que um cometa se aproxima do Sol em sua órbita, o calor solar aquece seu núcleo gelado. Esse processo libera gases e poeira, formando uma atmosfera difusa ao redor do núcleo, conhecida como “coma”. A pressão da luz solar e o vento solar empurram essa matéria para longe do Sol, criando as espetaculares caudas dos cometas, que podem se estender por milhões de quilômetros.

Aliás, quando a Terra atravessa as nuvens de poeira deixadas por essas caudas, observamos as chuvas de meteoros.

Por que os cometas brilham?

O brilho de um cometa é mais intensamente observado quando ele se aproxima do Sol em sua órbita. À medida que o cometa se aproxima, a intensa radiação solar e o aumento da temperatura provocam a sublimação dos materiais voláteis (a passagem direta do estado sólido para o gasoso) presentes em seu núcleo. Esse processo libera não apenas gases, mas também poeira, formando duas estruturas distintas: a coma e as caudas do cometa.

A coma é uma atmosfera densa e brilhante que envolve o núcleo do cometa. Ela é formada pela sublimação dos componentes voláteis do núcleo, que, ao se misturarem com a luz solar, produzem um efeito de brilho difuso ao redor do núcleo sólido.

Porém, o aspecto mais espetacular de um cometa é, sem dúvida, suas caudas. Diferentemente da coma, que envolve diretamente o núcleo, as caudas dos cometas podem se estender por milhões de quilômetros no espaço. 

Existem dois tipos principais de caudas:

Cauda de poeira: Formada por partículas de poeira liberadas pelo núcleo, essa cauda reflete a luz solar, criando um brilho visível e uma trilha alongada que pode ser observada a olho nu. Devido ao movimento do cometa e esta cauda ser mais “pesada”, ela tem uma aparência curvada.

Cauda de íons: A cauda de íons, ou cauda de gás, é formada quando moléculas de gás são ionizadas pela radiação solar e arrastadas pelo vento solar. Essa interação cria um brilho azulado, distinto da cauda de poeira, e aponta diretamente para longe do Sol.

Quais são os principais cometas?

Alguns cometas, devido à sua brilhante visibilidade e visitas regulares, tornaram-se icônicos. O Cometa Halley, por exemplo, é um dos mais conhecidos, com passagens registradas desde 240 a.C., tendo sido observado e registrado por várias civilizações ao longo da história, incluindo os antigos gregos, chineses, sumérios e muitos outros. A última aparição do Cometa Halley foi em 1986, e sua próxima ocorrerá em 2061.

Confira outros cometas famosos:

Cometa Hale-Bopp

Imagem: E. Kolmhofer, H. Raab; Johannes-Kepler-Observatory, Linz, Austria

Descoberto em 1995, o Cometa Hale-Bopp proporcionou um dos maiores espetáculos celestiais do século 20. Devido ao seu tamanho excepcionalmente grande e à passagem relativamente próxima da Terra, o Hale-Bopp foi visível a olho nu por um período recorde de 18 meses. A sua cauda azul e brilhante coma fizeram dele um objeto de estudo valioso e um favorito entre observadores do céu em todo o mundo.

Cometa Shoemaker-Levy 9

Imagem: NASA

O Cometa Shoemaker-Levy 9 ganhou notoriedade não por sua aparição no céu, mas por seu espetacular impacto com Júpiter, em 1994. Este evento foi a primeira colisão de grandes corpos celestes observada diretamente pelos cientistas, fornecendo informações valiosas sobre a natureza dos cometas e a dinâmica de impacto no Sistema Solar. O evento também destacou a importância de monitorar objetos celestes próximos à Terra para a segurança planetária.

Cometa Hyakutake

Imagem: E. Kolmhofer, H. Raab; Johannes-Kepler-Observatory, Linz, Austria

Descoberto em 1996, o Cometa Hyakutake é conhecido por ter a cauda mais longa já observada, estendendo-se por mais de 570 milhões de quilômetros. Sua passagem próxima à Terra proporcionou uma visão espetacular e rara, tornando-o um dos cometas mais brilhantes do século 20. Hyakutake ofereceu uma oportunidade única para o estudo da composição dos cometas, incluindo a descoberta de novas moléculas no espaço.

Cometa McNaught

Imagem: ESO/Sebastian Deiries

O Cometa McNaught, descoberto em 2006, é considerado o cometa mais brilhante visto da Terra em mais de 40 anos. Sua visibilidade e sua espetacular cauda brilhante capturaram a atenção de observadores do céu em todo o mundo. O McNaught proporcionou imagens deslumbrantes e dados valiosos para a compreensão dos mecanismos subjacentes ao brilho dos cometas.

Quantos tipos de cometas existem?

Os cometas são classificados principalmente com base em sua órbita e origem. Confira os tipos:

Cometas de Período Curto

Origem: Cinturão de Kuiper
Período Orbital: Menos de 200 anos
Características: Esses cometas têm órbitas relativamente curtas e são frequentemente capturados pela gravidade dos gigantes gasosos, como Júpiter, o que pode alterar significativamente suas trajetórias. O cometa Halley, com seu período de 76 anos, é o mais famoso dessa categoria.

Cometas de Período Longo

Origem: Nuvem de Oort
Período Orbital: Mais de 200 anos até milhares de anos
Características: Com órbitas muito alongadas, esses cometas visitam o interior do Sistema Solar muito raramente. Sua aparência é imprevisível, e eles podem exibir caudas espetaculares, como foi o caso do cometa Hale-Bopp nos anos 1990.

Cometas Não-Periódicos

Origem: Geralmente da Nuvem de Oort
Período Orbital: Não possuem período definido
Características: São cometas que visitam o Sistema Solar interno uma única vez antes de serem lançados para fora do Sistema Solar ou de se desintegrarem. Sua trajetória é altamente influenciada pelas interações gravitacionais com outros corpos celestes.

Cometas Extintos e Dormentes

Características: Cometas extintos são aqueles que perderam todos os seus materiais voláteis, restando apenas o núcleo rochoso, enquanto os dormentes são cometas que temporariamente pararam de exibir atividade, mas que ainda podem ser reativados. Eles representam o ciclo de vida e a evolução dos cometas dentro do Sistema Solar.

Quem escolhe os nomes dos cometas?

As convenções para nomear cometas evoluíram ao longo do tempo. No passado, os cometas eram muitas vezes nomeados simplesmente por seu ano de aparição ou por características marcantes observadas. Com o aumento do número de descobertas e a necessidade de um sistema organizado, a  União Astronômica Internacional (UAI) formalizou um processo padronizado, garantindo que cada cometa tenha um nome único que reflete sua natureza e história de descoberta.

Fundada em 1919, a UAI estabelece convenções padronizadas para a nomeação de objetos astronômicos, incluindo estrelas, planetas e, claro, cometas. Durante o século XIX, os cometas só receberam nomes após a sua segunda aparição, enquanto aqueles que apareceram apenas uma vez foram designados por uma combinação de ano de descoberta, números (arábicos e romanos) e letras. Às vezes, o nome do descobridor era mencionado entre parênteses. Foi somente no século passado que os cometas receberam rotineiramente o nome de seus descobridores.

Hoje, o Grupo de Trabalho sobre Nomenclatura de Pequenos Corpos (SBN) da Divisão F da IAU é o órgão responsável por questões relacionadas à nomenclatura de cometas. O batismo do cometa segue o seguinte padrão:

1. Um prefixo, aludindo ao tipo de cometa, que pode ser qualquer um dos seguintes:

  • P/ para um cometa periódico
  • C/ para um cometa que não é periódico
  • X/ para um cometa para o qual uma órbita significativa não pode ser calculada
  • D/ para um cometa periódico que não existe mais ou é considerado desaparecido
  • I/ para todos os objetos interestelares, sejam cometas ou asteróides

2. O ano da descoberta.

3. Uma letra maiúscula que identifica o semestre de observação durante esse ano (A para a primeira quinzena de Janeiro, B para a segunda quinzena e assim sucessivamente).

4. Um número que representa a ordem de descoberta naquele meio mês.

5. E, para completar a designação, os cometas recebem o nome da equipe de descoberta ou de um ou dois membros individuais da equipe (sobrenome para um indivíduo ou uma palavra ou sigla para uma equipe de astrônomos). As descobertas feitas por indivíduos são nomeadas em homenagem a até três descobridores independentes. Os nomes aparecem em ordem cronológica e separados por hífen. Em casos muito raros, o título pode consistir em três descobridores, ou pode até ser genérico.

Assim, os cometas que passam pelo Sistema Solar apenas uma vez ou que têm períodos tão longos que sua periodicidade não pode ser facilmente determinada são classificados como não-periódicos. Eles recebem a letra “C” seguida pelo ano de sua descoberta, uma letra que indica a ordem de sua descoberta naquele ano e, finalmente, o nome do descobridor ou descobridores. Por exemplo, o Cometa Hale-Bopp é oficialmente conhecido como C/1995 O1 (Hale-Bopp), refletindo o ano de sua descoberta (1995), a ordem de descoberta (primeiro cometa descoberto na segunda quinzena de julho, indicado por “O1”) e os sobrenomes de seus descobridores, Alan Hale e Thomas Bopp.

Em casos onde um cometa se fragmenta, os fragmentos podem receber designações adicionais para diferenciá-los. Além disso, eventos especiais, como colisões de cometas com planetas, podem influenciar a nomenclatura e são tratados caso a caso, sempre seguindo as diretrizes da UAI.

7 curiosidades sobre os cometas

  1. Origem da Vida: Alguns cientistas especulam que cometas podem ter trazido água e compostos orgânicos para a Terra, contribuindo para o surgimento da vida.
  2. Cores: As caudas dos cometas podem exibir diferentes cores, dependendo dos gases que estão sendo liberados. Por exemplo, o cianogênio e o carbono diatómico produzem uma cauda azulada.
  3. Múltiplas caudas: Cometas podem ter até três caudas: uma de poeira, uma de gás ionizado e uma terceira, raramente observada, de sódio.
  4. Visitas raras: Alguns cometas de longo período visitam o Sistema Solar interno uma vez a cada milhares ou até milhões de anos.
  5. Nomenclatura: Antes das convenções modernas, os cometas eram frequentemente nomeados com base em eventos significativos que ocorriam durante sua aparição.
  6. Destinos diversos: Cometas podem ser capturados em órbitas mais curtas, colidir com o Sol ou planetas, ou serem lançados para fora do Sistema Solar.
  7. Missões Espaciais: Diversas missões espaciais foram lançadas para estudar cometas de perto, como a Rosetta, que pousou no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em 2014, fornecendo dados inestimáveis.

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Sobre o Autor

Hemerson Brandão

Hemerson é jornalista, escreve sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Ele também é grande entusiasta de astronomia, interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.