O que são e de onde vêm os meteoritos

Confira quais são as características, os tipos e alguns exemplos de meteoritos famosos.

Meteorito de Nqweba, encontrado em 2024 na África do Sul. Imagem: Wits University
Meteorito de Nqweba, encontrado em 2024 na África do Sul. Imagem: Wits University

Os meteoritos são fragmentos de rocha ou metal que caem na superfície da Terra vindos do espaço. Eles são considerados testemunhas da história do nosso Sistema Solar, carregando dentro deles informações valiosas sobre a formação dos planetas e outros corpos celestes.

Antes de atingir o solo, esses objetos são chamados de “meteoroides” quando estão viajando pelo espaço e demeteoros” quando entram na atmosfera terrestre. A maioria dos meteoros se desintegra na atmosfera devido ao intenso calor gerado pelo atrito com o ar. 

Porém, quando um meteoro sobrevive à passagem atmosférica e atinge o solo, ele é chamado de “meteorito”. Mesmo assim, menos de 5% do objeto original geralmente chega ao solo.

Na prática, os meteoritos podem variar em tamanho, desde pequenas partículas semelhantes a grãos de areia até enormes blocos rochosos pesando toneladas.

O maior deles já encontrado na Terra é o Meteorito Hoba, descoberto na Namíbia em 1920, com um peso estimado de 54 toneladas. Acredita-se que ele tenha caído na Terra há menos de 80 mil anos. Devido ao seu tamanho, ele nunca foi movido do local onde foi encontrado.

Foto do meteorito Hoba, na Namíbia, em 2006. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução
Foto do meteorito Hoba, na Namíbia, em 2006. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Já no Brasil, o maior meteorito encontrado é o Bendegó. Ele tem peso de 5,36 toneladas e mede 2,15 metros de comprimento, 1,5 m de largura e 65 cm de altura, tendo sido descoberto no final do século 18.

>>> leia mais: A curiosa história do meteorito Bendegó

De onde vêm os meteoritos?

Ao todo, mais de 50 mil meteoritos já foram encontrados na Terra. A maioria desses meteoritos (99,8%) tem origem no Cinturão de Asteroides, localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter. Esses meteoritos são fragmentos de asteroides que se desprenderam devido, principalmente, a colisões. Eles podem orbitar o Sol por milhões de anos antes de cruzar a órbita da Terra e serem atraídos pela gravidade do nosso planeta. 

Porém, os asteroides não são as únicas fontes de meteoritos. Confira outras:

Planetas

Alguns meteoritos são originários de outros planetas, principalmente Marte. Eventos de grande impacto podem ejetar fragmentos da superfície marciana para o espaço e, eventualmente, cruzam o caminho da Terra. Os meteoritos marcianos são extremamente valiosos para a ciência, pois permitem o estudo de materiais de Marte sem a necessidade de missões tripuladas ou robóticas ao planeta.

Apelidado de "Beleza Negra", este meteorito marciano pesa aproximadamente 320 gramas e foi descoberto em 2011 na África. Imagem: NASA/Reprodução
Apelidado de “Beleza Negra”, este meteorito marciano pesa aproximadamente 320 gramas e foi descoberto em 2011 na África. Imagem: NASA/Reprodução

Lua

Da mesma forma que Marte, a Lua também é fonte de alguns meteoritos. Esses meteoritos lunares complementam as amostras trazidas pelas missões Apollo, dos EUA, e Chang’e, da China, e oferecem insights sobre áreas da Lua que ainda não foram exploradas diretamente.

Cometas

Embora raro, acredita-se que alguns meteoritos também possam ter origem em cometas. Compostos de gelo, poeira e rocha, os cometas residem nas regiões mais distantes do sistema solar. Porém, conforme viajam pelo Sistema Solar, eles deixam para trás uma nuvem de fragmentos, incluindo pequenas rochas que podem acabar alcançando a Terra.

Quais são os tipos de meteoritos

Os meteoritos são classificados em três categorias principais, com base em sua composição química e mineralógica:

Meteoritos rochosos (aerólitos)

Também conhecidos como meteoritos pétreos, são os mais comuns, representando cerca de 94% dos meteoritos que caem na Terra. Eles são compostos principalmente de minerais silicatos, contendo elementos como silício e oxigênio. Dentro desta categoria, existem duas subcategorias importantes:

Condritos: São meteoritos não modificados por fusão ou diferenciação desde que se formaram. Eles contêm pequenas esferas chamadas côndrulos, que são gotas solidificadas de material derretido, e representam os materiais mais primitivos do Sistema Solar, datando de 4,568 bilhões de anos. Os condritos fornecem informações sobre a composição inicial da nebulosa solar.

Acondritos: Não contêm côndrulos e geralmente se originam da crosta e manto de corpos que sofreram transformações ao longo de sua história, como asteroides grandes, a Lua ou Marte. São semelhantes em composição a rochas ígneas terrestres, como basaltos.

Meteoritos metálicos (sideritos)

Compostos predominantemente de ferro e níquel, os meteoritos metálicos representam cerca de 5% dos meteoritos encontrados. Eles são densos e pesados, o que os torna mais propensos a sobreviver à entrada atmosférica e mais fáceis de identificar na superfície terrestre. Acredita-se que sejam provenientes dos núcleos metálicos de asteroides diferenciados que foram despedaçados por colisões catastróficas.

Meteoritos Rochoso-Metálicos (siderólitos)

Também chamados de meteoritos mistos, contêm proporções significativas tanto de material rochoso quanto metálico. Uma subcategoria importante são os palasitos, que apresentam cristais de olivina (um mineral silicatado) embutidos em uma matriz metálica de ferro-níquel. Os palasitos são considerados alguns dos meteoritos mais esteticamente impressionantes e oferecem insights sobre a interface entre o núcleo e o manto de asteroides diferenciados.

Por que os meteoritos são importantes?

Os meteoritos podem ser considerados como verdadeiras cápsulas do tempo, preservando informações sobre as condições e processos que ocorreram durante a formação e evolução do Sistema Solar. Assim, estudá-los permite que os cientistas compreendam:

  • A idade do Sistema Solar: Os meteoritos contêm minerais que podem ser datados radiometricamente, fornecendo a idade aproximada de 4,568 bilhões de anos para o Sistema Solar.
  • Processos de formação planetária: Ao analisar a composição e estrutura dos meteoritos, os cientistas podem inferir como os planetas se formaram e evoluíram, incluindo processos como diferenciação e atividade vulcânica.
  • Meteoritos marcianos: Contêm gases presos que correspondem à atmosfera de Marte, confirmando sua origem e oferecendo insights sobre a geologia marciana.
  • Composição primordial: Meteoritos primitivos, como os condritos carbonáceos, contêm materiais orgânicos complexos e água, oferecendo pistas sobre a origem dos compostos necessários para a vida.
  • História de impactos: Estudar as características dos meteoritos e as crateras de impacto na Terra e outros corpos celestes ajuda a entender a frequência e os efeitos de colisões no sistema solar.

Como identificar meteoritos

Distinguir um meteorito de uma rocha terrestre comum pode ser um grande desafio. No entanto, existem características que podem ajudar nessa identificação.

A primeira delas é a crosta de fusão. Devido ao calor intenso durante a entrada atmosférica, a superfície do meteorito pode apresentar uma crosta fina, escura e vitrificada. Também é possível ver superfícies com marcas (semelhantes a impressões digitais) causadas pela erosão durante a entrada atmosférica.

No caso de meteoritos metálicos e rochoso-metálicos, normalmente, eles são mais densos e pesados do que rochas terrestres comuns. Além disso, muitos meteoritos contêm ferro-níquel, tornando-os atraídos por ímãs.

Porém, é importante notar que nem todos os meteoritos exibem todas essas características, e análises laboratoriais são frequentemente necessárias para confirmação definitiva.

Na dúvida, a recomendação é procurar especialistas no assunto. No Brasil, Maria Elizabeth Zucolotto é uma das maiores especialistas em meteoritos no Brasil, sendo chefe-substituta do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ, onde também é curadora do Setor de Meteorítica.

Meteoritos notáveis

Meteorito Allende

Foto de 2010 do meteorito Allende. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução
Foto de 2010 do meteorito Allende. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Caiu no México em 1969, é um dos meteoritos carbonáceos mais estudados, contendo inclusões ricas em cálcio e alumínio que são os materiais sólidos mais antigos conhecidos.

Meteorito de Gibeon

Foto de 2022 do meteorito de Gibeon. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução
Foto de 2022 do meteorito de Gibeon. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Encontrado na Namíbia, é um meteorito metálico famoso por suas belas estruturas, padrões cristalinos únicos formados provavelmente durante o resfriamento lento do núcleo de um asteroide.

Meteorito ALH84001

Foto do famoso meteorito marciano encontrado na Antártida em 1984. Imagem: NASA/Reprodução
Foto do famoso meteorito marciano encontrado na Antártida em 1984. Imagem: NASA/Reprodução

Descoberto na Antártida, em 1984, a rocha de 1,93 kg foi identificada como sendo de Marte. Quando cientistas olharam profundamente dentro dele usando um microscópio eletrônico, eles viram o que pareciam ser bactérias fossilizadas dentro de suas rachaduras. Porém, outros cientistas sugeriram que as estruturas não eram biológicas.

Meteorito de Santa Filomena

Meteorito de Santa Filomena descoberto em 2020 no Brasil. Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Meteorito de Santa Filomena descoberto em 2020 no Brasil. Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pesando cerca de 2,8 kg, o meteorito caiu em 2020, sobre a cidade de Santa Filomena, em Pernambuco. Na época, a cidade foi “invadida” por dezenas de curiosos, pesquisadores e até caçadores de meteoritos. Em 2023, o meteorito foi adquirido pelo Museu Nacional, sendo este a primeira peça a ser incorporada à coleção de meteoritos da instituição após o incêndio de 2018.

Onde encontrar meteoritos

Muitas pessoas se dedicam ao hobby de caçar meteoritos. Geralmente, desertos quentes, como o Saara, e frios, como a Antártica, são locais ideais para a coleta de meteoritos devido à baixa presença de rochas terrestres e ao ambiente que preserva os meteoritos. Na Antártica, por exemplo, o fluxo de gelo concentra meteoritos em determinadas áreas, facilitando sua descoberta.

Geralmente, os caçadores buscam essas preciosas rochas espaciais simplesmente por meio da pesquisa visual, caminhando ou dirigindo em áreas planas e desérticas, procurando por rochas incomuns. Também é possível usar técnicas de detecção magnética, utilizando ímãs para detectar meteoritos metálicos enterrados.

Além disso, eles também fazem o rastreamento após o avistamento de meteoros brilhantes no céu. Eles fazem cálculos de possíveis áreas de queda com base em observações e dados de radar.

Se você encontrar um meteorito, é importante documentar o local e as circunstâncias da descoberta. Isso fornece contexto científico e ajuda na identificação e classificação do meteorito.

Impactos que entraram para a história

Os impactos de meteoritos tiveram um papel significativo na história geológica e biológica da Terra. Alguns eventos de impacto famosos incluem:

Cratera de Chicxulub

Imagem gerada por computador da cratera de Chicxulub, no México. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução
Imagem gerada por computador da cratera de Chicxulub, no México. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Localizada na Península de Yucatán, no México, a Cratera de Chicxulub é associada a um impacto massivo ocorrido há cerca de 66 milhões de anos. Este evento é atualmente aceito como um fator-chave na extinção em massa do final do Cretáceo. Isso levou ao desaparecimento dos dinossauros não avianos e de muitas outras formas de vida.

Cratera de Barringer

Cratera de Barringer, também conhecida como "Cratera do Meteoro". Imagem: NASA/Reprodução
Cratera de Barringer, também conhecida como “Cratera do Meteoro”. Imagem: NASA/Reprodução

Uma das crateras mais intactas do nosso planeta é a Cratera de Barringer, nos EUA, com um diâmetro de cerca de 1 km. Ela foi formada há cerca de 50 mil anos, quando um meteorito de metal ferro-níquel de 50 metros atingiu o solo.

Evento de Tunguska

Tunguska, o dia que o céu explodiu
Foto da expedição de 1927 liderada por Leonid Kulik, mostrando árvores derrubadas pela explosão de Tunguska, em 1908. Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Em 1908, uma explosão poderosa ocorreu no céu sobre a região de Tunguska, na Sibéria, achatando árvores em uma área de mais de 2 mil km². Embora nenhum meteorito tenha sido encontrado, acredita-se que o evento foi causado pela explosão na atmosfera de um meteoroide com cerca de 50 metros de diâmetro.

Meteorito de Chelyabinsk

Semelhante a Tunguska, em 2013, um meteoroide de aproximadamente 20 metros entrou na atmosfera sobre Chelyabinsk, na Rússia. A explosão resultante, ocorrida a cerca de 30 km de altitude, liberou energia equivalente a 500 quilotons de TNT, quebrando janelas e ferindo cerca de 1.500 pessoas devido aos estilhaços de vidro.

Sobre o Autor

Hemerson Brandão
Hemerson Brandão

Hemerson é editor, repórter e copywriter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.