Como escolher um telescópio astronômico

Escolher um instrumento é mais fácil do que você imagina. Confira este guia!

Como escolher um telescópio astronômico

A escolha do primeiro telescópio é algo emocionante para qualquer futuro astrônomo amador. A possibilidade de poder ver os anéis de Saturno, explorar o interior de um aglomerado de estrelas ou avistar galáxias distantes é o que motiva muitos a tornarem a astronomia como um grande hobby.

Por mais que o nosso país ainda esteja longe do ideal quando falamos na oferta de telescópios e acessórios, já existem muitas opções no varejo brasileiro – ao ponto de tornar a escolha do instrumento em um grande fardo, principalmente para os iniciantes.

A grande variedade de modelos e preços dificulta para um consumidor desinformado tomar a decisão certa sobre que tipo de telescópio comprar.

Com esse guia, você começará a explorar os recursos básicos de todos os tipos telescópios, além de conhecer as vantagens e desvantagens de cada um deles.

Mas antes de examinar os diferentes telescópios disponíveis, vale a pena conhecer o básico de como eles funcionam.

Este artigo se concentra na observação visual e não em astrofotografia. Por mais que seja fácil fotografar a Lua por meio de qualquer telescópio, fotos de objetos distantes como galáxias e nebulosas requer muito tempo, paciência, além de equipamentos especializados.

Se você está começando agora, o ideal é ficar craque na astronomia observacional antes de querer se aventurar na astrofotografia. Além disso, é muito mais barato comprar um telescópio especializado para observação do céu, do que um para astrofotografia.

  1. Primeiros passos
  2. Abertura do telescópio
  3. Ampliação
  4. Distância focal
  5. Tipos de telescópios
  6. Montagens
  7. Preços

Primeiros passos

Antes de entrar no site da loja você precisa determinar o que espera fazer com um telescópio. Para lhe ajudar, reflita sobre as questões abaixo:

  • O que você deseja observar com o telescópio?
  • Você possui um local escuro para ver o céu?
  • Você observa regularmente o céu a olho nu (sem instrumentos)?
  • Já utilizou outros instrumentos astronômicos, como lunetas e binóculos?
  • Onde você guardará o telescópio?
  • Está disposto a carregar peso?
  • Qual o seu orçamento para comprar um novo telescópio?

Quanto mais claro você tiver as respostas para essas perguntas na sua cabeça, mais satisfeito estará ao comprar o seu mais novo telescópio.

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Abertura do telescópio

A abertura é o aspecto mais importante de qualquer instrumento astronômico.

É ela que define a quantidade de luz que o telescópio vai coletar e o quão brilhante a imagem vai aparecer. Essa abertura é definida pelo principal componente óptica do telescópio – que pode ser uma lente ou espelho – e varia geralmente de 30 mm (3 centímetros) a 300 mm (30 centímetros) de diâmetro.

Geralmente, a recomendação é que os iniciantes comecem pelos instrumentos com as menores aberturas e vão passando a utilizar os maiores diâmetros conforme vão ganhando experiência no uso do telescópio.

De forma geral, quanto maior a abertura de um telescópio, mais impressionante será a aparência de qualquer objeto. Entretanto, isso não significa que você tenha que sair correndo para comprar o maior telescópio que puder.

Telescópios com grandes aberturas tendem a ser mais caros. Eles também são mais pesados ​​e volumosos, o que pode ser um problema se você pretende transportá-lo, subir escadas ou viajar com ele.

Além disso, grandes aberturas são mais difíceis de apontar e manter focado um determinado objeto.

Um simples telescópio de 70 mm, por exemplo, já reúne 100 vezes mais luz do que seus olhos, revelando detalhes incríveis da Lua e vistas básicas de planetas, além de mostrar centenas de aglomerados de estrelas, nebulosas e galáxias.

O que observar com cada diâmetro?

  • 60 mm: Aqui, o foco maior será a observação da Lua, podendo ver com crateras e mares lunares sem muito aumento.
  • 70 mm: Os planetas já são observáveis, mas sem muita definição – sendo visíveis apenas como um pontinho gordinho. Dependendo da visão do usuário e da localidade, também é possível ver alguns detalhes de Marte, as quatro maiores luas de Júpiter assim como os anéis de Saturno.
  • 90 mm: É possível observar as fases de Vênus, assim como identificar as calotas polares de Marte, as faixas de nuvens de Júpiter e os anéis de Saturno com uma maior definição.
  • 120 mm: O telescópio já permite observar mais definição da superfície de Marte, Júpiter e de Saturno. Com este instrumento, também já é possível ver com mais detalhes nebulosas, aglomerados de estrelas e galáxias.
  • 150 mm: Aqui, já é possível observar Urano como uma bolinha azulada, assim como maior definição de objetos do céu profundo.

É válido destacar que ao comprar instrumentos amadores você verá os planetas do Sistema Solar como pequenas bolinhas. Aquelas images vistosas e de alta resolução que vemos na internet dos planetas e de outros objetos celestes são captadas com grandes observatórios, telescópios colocadas no espaço ou por meio de sondas espaciais. Ou seja, você não conseguirá o mesmo resultado com telescópios amadores de até 150 mm.

Porém, com um instrumento de cerca de 100 mm de abertura, por exemplo, usando uma ampliação média e estando em um local escuro (longe das grandes cidades) e sem nuvens, já é possível ver os planetas como na imagem abaixo.

Da esquerda para a direita, Marte, Júpiter e Saturno captados com um telescópio amador com cerca de 100 mm de abertura. Imagem: YouTube/Reprodução
Da esquerda para a direita, Marte, Júpiter e Saturno captados com um telescópio amador com cerca de 100 mm de abertura. Imagem: YouTube/Reprodução

Ampliação

“Quanto ele aumenta?” Essa é a pergunta padrão de qualquer pessoa que pretende comprar um telescópio.

E a resposta é simples: depende da ocular (aquela lente que você aproxima o olho).

Normalmente, os telescópios vêm acompanhados de duas ou mais oculares, o que fornece uma ampla gama de ampliações.

Como regra geral, a maior ampliação útil de um telescópio é duas vezes a abertura em milímetro. Ou seja, se o telescópio tem 100 mm de abertura, a ampliação máxima é de 200 vezes. Por isso, desconfie se instrumento de 100 mm é vendido como 300 vezes de potência.

A escolha da ocular vai depender do objeto a ser observado. Para a maioria dos objetos do céu o recomendado é usar ampliações entre 8x e 40x para cada 25 mm de abertura. Para Lua e planetas, usamos as maiores ampliações, enquanto objetos do céu profundo (aglomerados de estrelas, nebulosas e galáxias) as menores. Respeitar essa proporção garantirá que você não terá imagens escuras ou borradas demais.

Distância focal

Ao pesquisar sobre telescópios, você perceberá que a maioria dos anúncios de telescópios não focam tanto em ampliação, mas na distância focal. Geralmente, os instrumentos têm entre 400 e 3.000 milímetros.

A distância focal nada mais é que o comprimento entre a lente ou espelho até o local onde a imagem é formada.

É a partir desse número que calculamos a razão focal, representada por um “f/” seguido de um número. Para isso, basta dividir a distância focal pela abertura do telescópio. Por exemplo, um telescópio de 1.000 mm de distância focal e 100 mm de abertura, tem uma razão focal de f/10.

De forma geral, é possível encontrar instrumentos com razões focais entre f/4 e f/15. Saber esse número é fundamental na hora de escolher o telescópio, pois ele define para que tipo de objeto ele é mais indicado.

Telescópios com grandes razões focais (f/10 ou mais) são recomendados para a observação de objetos luminosos como a Lua e planetas. Já os telescópios com menor razão focal (f/6 ou menos) são indicados para a observação de objetos com brilho mais fraco, como galáxias e nebulosas.

Vale destacar que as oculares também têm distâncias focais, como 25 mm ou 10 mm, por exemplo. A partir da distância focal do telescópio também é possível calcular a ampliação de uma ocular.

Se o telescópio tem 1.000 mm de distância focal, ao usar uma ocular de 25 mm, a potência é de 40 vezes. A conta é assim: 1.000 / 25 = 40.

A regra é mudar para uma ocular com um comprimento focal menor para ampliações maiores. Neste caso, o tamanho do espelho ou lente principal não afeta a ampliação.

Tipos de telescópios

Os telescópios podem ser divididos em três classes: refratores, refletores e catadióptricos.

Refratores

Os telescópios refratores são mais conhecidos como “lunetas”. Esses instrumentos têm um tubo longo com uma lente grande na frente e uma ocular atrás.

Geralmente, os refratores oferecem imagens mais nítidas e brilhantes do que os outros tipos de telescópios. Outra vantagem é que os telescópios refratores são mais resistentes, porque as lentes têm menos probabilidade de sair do alinhamento.

Esses instrumentos também são menores, mais leves e baratos, sendo indicados para quem está iniciando na astronomia observacional.

Por outro lado, a maioria dos refratores comercializados têm pequenas aberturas, que variam de 30 mm a 80 mm. Além disso, eles sofrem de problemas de cores falsas, fazendo com que objetos brilhantes parecem um borrão colorido com um arco-íris ao redor.

Refletores

O segundo tipo de telescópio, o refletor, utiliza espelhos para coletar e focalizar a luz em uma ocular.

Um refletor pode fornecer imagens nítidas e contrastantes de todos os tipos de objetos celestes. Eles funcionam bem em relações focais de f/4 a f/8, oferecendo amplos campos de visão em relação à sua abertura.

Além disso, como a ocular fica na parte superior do tubo, é mais fácil observar o céu com ele sentado ou mesmo em pé.

A desvantagem é que eles exigem manutenção ocasional. Com o uso e a movimentação do telescópio, os espelhos do refletor podem ficar desalinhados, precisando de colimação periódica.

Catadióptricos

Inventados na década de 1930, os telescópios catadióptricos tentam unir as melhores características de refratores e refletores em um mesmo instrumento.

Eles também utilizam espelhos e lentes, com a vantagem de serem muito compactos. Seus tubos são apenas duas a três vezes mais longos que a largura.

O resultado é que você pode obter um telescópio de grande abertura e foco longo, mas que é facilmente transportável para um sítio ou acampamento.

Geralmente, os catadióptricos são encontrados nas versões Schmidt-Cassegrain e Maksutov-Cassegrain.

A ressalva é que a maioria dos Schmidt-Cassegrains tem uma razão focal f/10, e Maksutov-Cassegrains geralmente têm razões focais ainda mais longas.

Assim como os refletores, os catadióptricos também precisam de colimação óptica ocasional.

Além disso, como a montagem dele possui um espelho secundário no caminho da luz, a observação lunar e planetária de alta ampliação perde um pouco do desempenho.

Da esquerda para a direita, exemplos de telescópios do tipo refrator, refletor e catadióptrico. Imagem: SkyWatch/Reprodução
Da esquerda para a direita, exemplos de telescópios do tipo refrator, refletor e catadióptrico. Imagem: SkyWatch/Reprodução

Montagens

Além de saber qual telescópio escolher, também é preciso ter atenção quanto à montagem do instrumento.

Atualmente, três tipos de montagens são encontrados no varejo brasileiro: altazimutal, dobsoniana e equatorial.

Altazimutal

A montagem de telescópio mais simples é a altazimutal, normalmente utilizada nos instrumentos de menor abertura.

Eles funcionam que nem os tripés de câmeras fotográficas. Inclusive, os tripés fotográficos robustos funcionam muito bem para pequenos telescópios.

O tripé altazimutal é barato, fácil de transportar e montar. Ele também é leve, o que pode ser um problema se você for observar o céu em um local com muito vento. Nesses casos, uma dica é pendurar no tripé uma garrafa com água para deixá-lo mais firme ao solo.

Além disso, como a Terra está girando, o céu está se movimentando a todo momento. Isso significa que o observador que utiliza um tripé altazimutal precisa a todo momento ajustar o telescópio para compensar esse movimento e manter o objeto celeste visível na ocular.

Dobsoniana

Outra montagem de baixo custo é a dobsoniana.

Ela consiste em um suporte colocado no chão – dispensando o tripé altazimutal – sendo muito utilizado em telescópios de mesa ou com tubos muito longos.

Assim como o altazimutal, a montagem dobsoniana também precisa realizar ajustes para compensar o movimento do céu. Entretanto, alguns modelos mais modernos de telescópios contam com sistemas de motorização e automação que facilitam esse trabalho.

Equatorial

A montagem equatorial lembra a altazimutal, com a diferença que ele é inclinado e conta com um eixo polar.

Com isso, é possível alinhar o telescópio com o polo celeste, deixando o telescópio paralelo ao eixo de rotação da Terra. Isso facilita rastrear objetos celestes conforme eles vagam pelo céu.

Essa compensação do movimento do céu pode ser feita manualmente ou com o uso de um motor.

A desvantagem é que eles são mais pesados ​​e volumosos do que as montagens altazimutais.

Além disso, alinhar o telescópio no hemisfério sul é complicado, pois não existe uma estrela brilhante próxima do pólo celeste sul, a exemplo do hemisfério norte. Entretanto, também há modelos de montagens motorizadas que contam com um computador de bordo e um banco de dados – conhecidos como “Go To” – para tornar a localização de objetos mais simples.

Preços

Por mais que seja tentador, resista em comprar o telescópio mais barato disponível. A maioria dos telescópios baratos tem uma baixa qualidade óptica, o que pode decepcionar o usuário.

Isso também não significa que você tenha que comprar o mais caro.

O recomendado é começar com um mais barato, até você pegar gosto pela observação e comprar um instrumento mais especializado para o tipo de objeto que pretende observar. Afinal, o melhor instrumento é aquele que você utilizará com maior frequência.

Sabendo pesquisar, é possível encontrar bons telescópios refratores com preços entre R$ 700 e R$ 1.500 – como o 60 mm da ‎Skywatcher (disponível aqui) – e refletores a partir de R$ 2.000 – como o 114 mm da Barsta (disponível aqui).

Já os catadióptricos são mais difíceis de encontrar no Brasil e tem preços a partir de R$ 3.000, como o 90 mm da Greika (disponível aqui).

*Texto adaptado da Sky and Telescope.

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