Colaboração internacional J-PAS divulga primeiros dados do mapeamento do Universo

Com participação de pesquisadores da USP, primeiros dados da pesquisa mostram a posição tridimensional de 100 mil estrelas e cerca de 450 mil galáxias

Imagem inédita da primeira amostra divulgada pelo JPAS – Imagem: Divulgação/J-PAS
Imagem inédita da primeira amostra divulgada pelo JPAS – Imagem: Divulgação/J-PAS

Beatriz La Corte
Jornalista

JORNAL DA USP — O projeto Javalambre Physics of the Accelerating Universe Astrophysical Survey (J-PAS) está disponibilizando à comunidade científica os primeiros 12 graus quadrados do mapa tridimensional do Universo, feito a partir do Observatório Astrofísico de Javalambre. A área estudada contém 550 mil objetos astronômicos e é apenas uma pequena amostra de toda a área de pesquisa, que observará milhares de graus quadrados ao longo de 10 anos.

O professor Raul Abramo, do Instituto de Física (IF) da USP e um dos fundadores dos do projeto, explica que num enquadramento de 8 mil graus quadrados será possível identificar cerca de 1 bilhão de objetos espaciais. O cientista diz que existem várias maneiras de observar o Universo e que cada telescópio, de acordo com sua abordagem técnica, pode fazer isso de maneira diferente: alguns captam muitos objetos com menor definição, outros restringem a captação em função da qualidade visual da imagem. O J-PAS inova ao capturar um amplo espaço do Universo com qualidade suficiente para compreensão e aprofundamento do conteúdo.

As primeiras imagens e catálogos deste projeto internacional estão, a partir desta quarta, 20 de novembro, totalmente acessíveis através do site. Os primeiros dados da pesquisa mostram a posição tridimensional de 100 mil estrelas e cerca de 450 mil galáxias. É a primeira demonstração científica do poder da combinação do telescópio de campo amplo JST250 e sua câmera panorâmica JPCam.

Um mapa sem precedentes

A cada ano, o projeto planeja aumentar a área de captação em 500º – Imagem: Divulgação/J-PAS
A cada ano, o projeto planeja aumentar a área de captação em 500º – Imagem: Divulgação/J-PAS

O mapeamento J-PAS é o resultado de uma combinação única: observar um grande volume do Universo em um número sem precedentes de bandas fotométricas. A câmera JPCam integra 56 filtros ópticos de banda estreita, únicos em nível internacional e definidos especificamente para o projeto. Na prática, isso significa ter informações multicoloridas homogêneas de todos os objetos observados. Isto permite determinar grandezas astrofísicas como a temperatura e composição das estrelas ou a idade e distância das galáxias, entre muitas outras.

O J-PAS deverá se tornar o mapeamento fotométrico mais completo do Universo, bem como uma referência internacional para uma infinidade de aplicações científicas. Observará milhares de graus quadrados do céu com centenas de milhões de galáxias e estrelas. “Qualquer estudo futuro destes objetos se beneficiará das informações fornecidas pelo J-PAS. Como projeto legado, acreditamos que o J-PAS se tornará uma das maiores referências internacionais em astrofísica na próxima década. E esta divulgação é o primeiro passo neste caminho”, afirma Carlos López San Juan, vice-diretor científico do CEFCA.

Raul Abramo – Foto: Divulgação
Raul Abramo – Foto: Divulgação

O projeto começou a ser idealizado em 2009 e passou por três fases principais: concepção teórica do design (3 anos); construção das câmeras e do material (9 anos) e instalação e checagem (2 anos).

“É fantástico conceber que os nossos cálculos de 15 anos atrás possibilitaram essa riqueza de informações” – Raul Abramo

Informações a cada pixel

O J-PAS agora abre acesso aos dados correspondentes a um total de 12 graus quadrados com os 56 filtros do projeto. O conjunto de dados consiste em 25.000 imagens obtidas no último ano. As imagens J-PAS são únicas porque fornecem informações em todos os filtros, mas também em todos os pixels da área observada. As próprias imagens são calibradas, o que significa que a intensidade da luz pode ser medida em qualquer ponto de qualquer levantamento, nos 56 filtros.

Observatório Astrofísico de Javalambre – Foto: Divulgação/J-PAS
Observatório Astrofísico de Javalambre – Foto: Divulgação/J-PAS

Centenas de imagens são feitas todas as noites no Observatório Astrofísico de Javalambre (OAJ), que utilizam de um data center dedicado para seu armazenamento, gerenciamento e calibração. O desenvolvimento de ferramentas de processamento de imagens é outro marco do projeto J-PAS.

Para Renato Dupke, do Observatório Nacional, no Brasil: “[O projeto] não só tem o potencial único para fazer ciência única, que outros mapeamentos não fazem, mas também irá ligar-se a outras colaborações científicas e projetos que estão sendo desenvolvidos hoje”

Uma das maiores câmeras do mundo 

O projeto J-PAS começou a obter as primeiras imagens científicas há cerca de um ano. Trata-se do principal projeto realizado com o telescópio JST250, um telescópio grande angular de 2,5 metros localizado no Observatório Astrofísico Javalambre (OAJ). Seu instrumento científico é a Javalambre Panoramic Camera (JPCam) que, com mais de 1,2 bilhão de pixels, é atualmente uma das maiores câmeras astronômicas do mundo. A combinação de JPCam e JST250 fornece uma ferramenta poderosa e única, capaz de mapear o Universo e medir distâncias extragalácticas com precisão.

Plano focal da JPCam, uma das maiores câmeras astronômicas do mundo – Foto: Divulgação/J-PAS
Plano focal da JPCam, uma das maiores câmeras astronômicas do mundo – Foto: Divulgação/J-PAS

A colaboração internacional

O J-PAS é gerenciado por meio de uma colaboração científica internacional. É liderado pelo Centro de Estudios de Física del Cosmos de Aragón (CEFCA) e o Instituto de Astrofísica de Andalucía (IAA-CSIC), na Espanha; e no Brasil pelo Observatório Nacional (ON) do Rio de Janeiro e pela USP, e é desenvolvida e explorada cientificamente através de uma rede internacional com mais de 250 pesquisadores de 18 países.

O J-PAS é um projeto que deixa um legado para a comunidade científica internacional e oferecerá uma visão única do Universo, tanto em termos da qualidade como da quantidade de informação que fornecerá para cada um das centenas de milhões de objetos astronômicos que observa sistematicamente. Para o Héctor Vazquez Ramió, “o mais importante é que esta divulgação antecipada dê uma ideia do que o J-PAS pode fornecer e da qualidade destes dados”.

O OAJ e o Projeto J-PAS são financiados pelo CEFCA e pelos Governos de Aragão e Espanha através do Fundo de Investimento Teruel, da União Europeia no âmbito do Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência (NextGenerationEU) e dos Fundos Europeus de Desenvolvimento Regional. As agências brasileiras FINEP, FAPESP, FAPERJ e o Observatório Nacional do Brasil contribuíram para o financiamento do JPCam. O financiamento adicional para o J-PAS foi fornecido pelo Observatório da Universidade de Tartu e pelo Consórcio Astronómico Chinês do J-PAS.

*Estagiária com orientação de Luiza Caires e informações do Projeto J-PAS

Mais informações: e-mail lrwabramo@gmail.com, com Raul Abramo

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